sábado, 30 de janeiro de 2021

2020, o ano dos vinhos finos brasileiros

Melhor ano da história do vinho brasileiro fechou com a venda recorde de mais de 24 milhões de litros. Espumantes e suco de uva não tiveram o mesmo êxito.



O ano do vinho fino. Assim ficará marcado na história da vitivinicultura brasileira o ano de 2020, batizado como a ‘Safra das Safras’. Desde 2013, as vinícolas não superavam os 20 milhões de litros. O volume de 2019 de 15,4 mi de litros saltou para 24,2 mi de litros no ano passado, um incremento de 56,56%. Já os espumantes caíram 6,63%, passando de 13,5 mi litros para 12,6 mi litros, com exceção dos moscatéis que tiveram um pequeno acréscimo de 3,90%, indo de 8,9 mi litros para 9,2 mi litros. Outra queda foi na categoria do suco de uva. Os 175,9 mi de litros vendidos em 2019 caíram para 166,7 mi em 2020, um tombo de 5,24%. Estes são os dados oficiais da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), com base no Sistema de Cadastro Vinícola da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul e do Ministério da Agricultura.



Apesar do bom desempenho geral, o setor ainda busca maior competitividade frente aos importados que, mesmo com a alta do dólar, cresceram 28,85% no mesmo período. Só que neste caso, o volume é oito vezes maior que o dos vinhos finos brasileiros, ou seja, em 2019 foram 114,1 mi de litros e em 2020, 147,1 mi de litros. “O trabalho é longo, mas estamos no caminho certo. Agora, uma parcela maior de brasileiros descobriu o vinho nacional e percebeu sua qualidade. Nosso desafio é manter este consumo e ir além”, destaca Deunir Argenta, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra).


Fatores econômicos, de logística, tributários, diversidade, novas regiões produtoras, desenvolvimento do enoturismo, a mudança de hábitos em razão da pandemia e o locavorismo (valorização do comércio local) contribuíram para o ganho de competitividade. Mas a grande conquista é a percepção por parte dos brasileiros da qualidade dos vinhos e espumantes nacionais. “Nosso país é um continente e o setor vitivinícola brasileiro, apesar de já existir mais de 20 regiões produtoras, ainda tem 90% de sua produção centralizada no Rio Grande do Sul. Precisamos melhorar ainda mais essa distribuição, aproximando o consumidor dos nossos rótulos”, ressalta Argenta. A aposta no e-commerce e em ferramentas práticas como o próprio WhatsApp tem facilitado a venda com entrega em qualquer parte do país.


Exportações


O volume de vinhos finos e espumantes que chegam à mesa de consumidores do mundo todo ainda é pequeno, mas mesmo diante de uma pandemia global e dos entraves que ela ocasionou, especialmente o fechamento de fronteiras, o desempenho em 2020 foi positivo. O volume em litros de vinhos finos que saiu do Brasil rumo a outros países passou de 3,4 mi em 2019 para 4,4 no ano passado, um impulso de 29,85%. O crescimento também acompanhou os espumantes que foram de 686 mil para 771 mil, um aumento de 12,29%. Já o suco de uva, teve uma queda expressiva de 43,13%, indo de 2,4 mi para 1,3 mi.


COMERCIALIZAÇÃO DE VINHOS FINOS, ESPUMANTES E SUCO DE UVA ELABORADOS NO RIO GRANDE DO SUL – MERCADO INTERNO 2020 (litros) – JAN A DEZ 2020


PRODUTOS

DEZEMBRO 2020

JAN A DEZ 2019

JAN A DEZ 2020

Vinhos Finos

1.520.188

15.479.390

24.233.965

Espumantes (Brut)

1.363.261

13.544.432

12.646.377

Espumantes (Moscatéis)

1.351.221

8.911.279

9.258.438

Suco de Uva *

13.970.121

175.956.107

166.729.482

* Suco de Uva (Natural/Integral, Reprocessado/Reconstituído, Adoçado e Concentrado)


Fonte: SISDEVIN/SEAPDR | Elaboração: Uvibra – Dados coletados em 14 de janeiro de 2021.


IMPORTAÇÃO DE VINHOS FINOS, ESPUMANTES E SUCO DE UVA 2020 (litros)


PRODUTOS

JAN A DEZ 2019

JAN A DEZ 2020

1,00049529470035%

Vinhos Finos

114.181.000

147.127.000

28,85%

Espumantes

6.163.000

4.948.000

-19,72%

Suco de Uva

90.000

28.000

-61,80%

Fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Os vinhos brasileiros ganharam vários prêmios

 Brasil fecha 2020 com 321 Medalhas conquistadas em 18 concursos realizados em 12 países




O ano de 2020 realmente foi o ano do vinho brasileiro, dentro e fora do país. O mesmo reconhecimento conquistado com o espumante agora é percebido em relação aos vinhos finos tranquilos nacionais. O padrão de qualidade é uma realidade degustada e aprovada por especialistas do mundo inteiro. Das 321 medalhas conquistadas em 2020, 166 foram para vinhos tranquilos, ou seja, 51,71%. Os espumantes ‘brazucas’ arremataram 147 prêmios, 45,79% do total, ficando 2,5% para destilados e licorosos com oito distinções. Agora, o Brasil chega a 4.806 premiações.


Na história do setor vitivinícola brasileiro, o ano passado foi o terceiro melhor desempenho em número de premiações, ficando atrás apenas de 2014 com 388 e 2016 com 338 medalhas. Mas esta é a primeira vez em 26 anos que os vinhos finos ganham tamanha representatividade, superando as premiações dos espumantes. O registro das premiações existe desde 1995, quando a Associação Brasileira de Enologia (ABE) assumiu o papel de enviar as amostras para concursos reconhecidos mundialmente, função que fortaleceu a imagem do vinho brasileiro junto a instituições como a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV).



“Estamos vivendo um novo e frutífero momento do vinho brasileiro. Mostramos ao mundo que depois de tanto investimento em tecnologia, estudos e pesquisas, do vinho ao ponto de venda, o Brasil figura entre os grandes produtores de vinhos e espumantes de excelência do mundo. Hoje, esta é uma realidade percebida no Brasil e no mundo”, comemora o presidente da ABE, André de Gasperin. O enólogo complementa, destacando que o Brasil se diferencia ainda mais por ser um continente de solos e climas o que resulta numa produção tão diversificada que contempla os mais diversos estilos.

 


Toda essa jovialidade e ao mesmo tempo sofisticação foram reconhecidos em 18 concursos realizados no Brasil, Canadá, Chile, Espanha, França, Grécia, Hungria, Inglaterra, Itália, Portugal, República Tcheca e Suíça. Para a Associação, uma excelente performance num ano de pandemia, onde muitos concursos precisaram se adaptar, mudando datas e procedimentos. “Em razão do fechamento da fronteira com a Argentina, não conseguimos enviar amostras para o Vinus e o La Mujer Elige, que todos os anos temos o hábito de mandar”, lamenta Gasperin.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Avinícula da serra gaúcha, Dal Pizzol

 Na Viagem que fiz no início de 2020, com amigos enófilos, para a serra gaúcha, uma das vinícolas escolhidas para visitarmos foi a Dal Pizzol. 



O desejo era conhecer as Vinhas do Mundo, um tipo de museu que hoje reúne mais de 400 variedades de uvas, de mais de 35 países, de todos os continentes. A primeira Colheita Simbólica da Dal Pizzol foi realizada em 2011, e então vinificado o primeiro VINUMMUNDI, realizado com 20 variedades de uvas. Neste mesmo ano, a vinícola também estreou a Degustação às Cegas, uma experiência enoturística única, realizada com pessoas de olhos vendados. A cada ano, uma nova Colheita Simbólica  acontece no Vinhedo do Mundo e dela surge um novo VINUMMUNDI, com mais de 100 castas.



No programa de visita a Dal Pizzol, que deve ser agendado, você recebe equipamentos para colher algumas uvas da Vinumnundi, podendo prová-las também. 



Este é o segundo vinhedo deste tipo no mundo, sendo o primeiro desenvolvido na Eslovênia.



Nesta visita provei até uvas da Geórgia, onde estive em 2020. 



Depois de colhidas, as uvas vão para a vinificação, cujo vinho será apresentado no ano seguinte.



Neste dia, almoçamos na vinícola e provamos o vinho feito com a colheita do ano anterior. O vinho é mais uma curiosidade, pois este blend inusitado resulta, em geral, num vinho pouco agradável . Isto mostra o que aconteceria se fizéssemos um blend, sem levar em conta as proporções e as uvas, que deveriam combinar entre elas.



Neste início de janeiro de 2021 faleceu um dos irmãos e sócios da vinícola: Antonio Dal Pizzol.

Acrescento abaixo palavras da assessora de imprensa da ABE (Associação Brasileira de Enologia) Lucinara Masiero sobre o trabalho do sr. Antonio Dal Pizzol:

A vinha cresce, floresce, dá frutos que geram vinhos, que evoluem, que emocionam, que  deixam lembranças, que marcam o tempo. Todo vinho é feito para ser degustado, mais cedo ou mais tarde, dependendo do seu estilo, da sua complexidade, do momento. Mas todos, sem distinção, nascem no vinhedo e é na taça, compartilhada com amigos, que cumpre seu papel mais importante: o de reunir pessoas para brindar a vida. Essa tem sido a rotina da Dal Pizzol Vinhos Finos há 47 anos. Porque o tempo é a mais implacável das medidas. Ele passa, deixa marcas, mas não volta. O dia 9 de janeiro de 2021 nunca mais será esquecido pela Dal Pizzol. Foi neste dia que a vinícola perdeu um de seus fundadores, o Antônio Dal Pizzol (71), o Seu Toninho, como era carinhosamente chamado por todos que o conheciam. E perdemos todos nós, pois não teremos mais sua presença carismática, cheia de paixão pelo vinho e pela vida. Daqui para frente nossos brindes não serão mais os mesmos, mas não deixaremos de brindar. Aliás, agora, mais do que nunca, vamos nos esforçar ainda mais para que o seu exemplo não se apague e permaneça vivo em cada brinde, como gostava de viver.

Sua história com o vinho brasileiro começou ainda em 1974, quando fundou a Vinícola Monte Lemos – a reconhecida Dal Pizzol Vinhos Finos, localizada na Rota Cantinas Históricas, no distrito de Faria Lemos, interior de Bento Gonçalves (RS). O primeiro vinho que o Seu Toninho colocou debaixo do braço e saiu pelo Brasil abrindo mercado foi o Do Lugar Cabernet Franc, lançado em 1978 para comemorar o Centenário da vinda da Família Dal Pizzol ao Brasil. Durante toda sua vida, este sempre foi seu vinho preferido. Em 1981, surge o primeiro vinho carregando o nome da família, o Dal Pizzol Merlot. Com 20 anos no mercado, a empresa começa a colecionar prêmios sendo destaque na 2ª Avaliação Nacional de Vinhos com o seu Cabernet Sauvignon 1994. O primeiro prêmio internacional veio da França, em 1997.

Para comemorar seus 25 anos, a Dal Pizzol abre, em 1999, um espaço dedicado ao Enoturismo e que até hoje encanta todos que o visitam: é o Parque Temático do Vinho Dal Pizzol, um museu a céu aberto que preserva a cultura dos imigrantes italianos e ao mesmo tempo mantém uma coleção botânica de espécies nativas, exóticas, ornamentais, frutíferas e medicinais, todas identificadas e catalogadas. Animais domésticos e silvestres andam soltos e livres na natureza. O projeto tem apoio do Ministério da Cultura do Governo Federal, através da Lei Rouanet de Incentivos Fiscais, seguindo o conceito de que vinho é um Patrimônio Nacional e Universal. É lá que foi instalado o Vinhedo do Mundo, que logo viria a se tornar uma das três maiores coleções de uvas privada do mundo, a maior da América Latina.

Ainda em 1999, a Dal Pizzol começa a elaborar espumantes, colocando no mercado o Dal Pizzol Brut Tradicional. Sua tradição de lançar produtos comemorativos em datas especiais ganha força nas Bodas de Prata com a apresentação de um vinho assemblage envasado em garrafa de 3 litros (Dal Pizzol Millenium 2000), uma Grappa envasada em garrafa estilizada, importada da Itália, e um vinho comemorativo aos 25 anos, o Dal Pizzol Assemblage em garrafa de 500 ml. Mais tarde, em 2002, surge o Dal Pizzol Pinot Noir, hoje considerado um dos ícones do Brasil. E assim, com o passar dos anos, a vinícola foi lançando novos produtos, aperfeiçoando técnicas, conquistando paladares, sempre seguindo sua filosofia de elaborar vinhos sem passagem por barrica de carvalho, extraindo o máximo da fruta.

Em 2003, a marca começa a exportar para a Bélgica. Em 2004, em seus 30 anos, a empresa lança seu vinho comemorativo, incluindo em seu portfólio o Do Lugar Suco de Uva 100% Natural e o Do Lugar Espumante Moscatel. O Bag in Box chega em 2007. Um dos grandes lançamentos da Dal Pizzol foi o Touriga Nacional 200 Anos, lançado em 2008 em comemoração a chegada da Família Imperial ao Brasil. O sucesso foi tanto que o rótulo permanece até hoje em linha.

O Vinhedo do Mundo, que hoje reúne mais de 400 variedades de uvas de mais de 35 países de todos os continentes, teve sua primeira Colheita Simbólica em 2011, de onde foi vinificado o primeiro VINUMMUNDI, com 20 variedades de uvas. Neste mesmo ano, a vinícola também estreou a Degustação às Cegas, uma experiência enoturística única, realizada com os olhos vendados. A cada ano uma nova Colheita Simbólica no Vinhedo do Mundo e dela um novo VINUMMUNDI, tendo exemplares feitos com mais de 100 castas.

Em 2013 foi inaugurado, o Ecomuseu da Cultura do Vinho, com um acervo de vinhos brasileiros e internacionais de grande importância histórica. E juntamente com o Instituto R. Dal Pizzol passam a integrar a Association for Culture and Tourism Exchange (ACTE), uma das mais importantes entidades voltadas à cultura do vinho na Europa. E toda esta trajetória foi sendo construída safra a safra por Toninho na área comercial, e seu irmão Rinaldo Dal Pizzol (83), em projetos histórico-culturais, sócios inseparáveis.

E chega 2014 e com ele os 40 anos da vinícola. Para comemorar, um gran assemblage feito com Merlot, Cabernet Sauvignon, Tannat e Nebiolo. E lá foi o Seu Toninho entregar uma garrafa para amigos, clientes e jornalistas. Assim como fez em 2019, aos 45 anos da empresa, quando foi lançado outro corte, desta vez de Marselan, Alicante Bouschet e Petit Verdot, com pequena passagem em barrica francesa, ele refez seu habitual trajeto e entregou pessoalmente o vinho para diversos formadores de opinião.

Nessas 47 safras, a Dal Pizzol vem mantendo parceria com agricultores de diversas regiões do Rio Grande do Sul, cultivando, além de uvas, muitas amizades. Seus vinhos, todos varietais, nascem de cerca de 15 castas. São vinhos únicos, típicos, sem passagem por carvalho, jovens, modernos e com graduação alcoólica moderada, todos em pequenos lotes. São cerca de 300 mil garrafas por ano.

Toninho era implacável em bem receber. Sempre com uma taça de espumante à mão e um sorriso aberto no rosto, estava a postos com seu chapéu de palha, recepcionando as pessoas. Tinha o hábito de ligar para os amigos todo final de ano e no aniversário, desejando coisas boas. Este ano, ninguém recebeu a sua ligação. Ficam as lembranças, os bons momentos, a simplicidade de onde brotam emoções inesquecíveis. Que o seu último brinde, no dia 27 de novembro de 2020, jamais seja esquecido e que o seu amor pelo vinho brasileiro continue contagiando a todos que se relacionam com a Dal Pizzol.

Meus sentimentos!

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