Como pretendia fazer uma viagem a Portugal, aproveitei para agendar uma visita à sua vinícola, no final de setembro, com o intuito de ver ali, a vindima.
Escolhi ficar hospedado na cidade de Viseu, que fica no coração da região do Dão e assim fiz.
Esta cidade nos reservou gratas surpresas, apresentando-se moderna, com boas avenidas e um Shopping Center de um tamanho e opulência, que nem parecia se adequar aquele porte de cidade.
Encontramos também em Viseu, prédios e bairros antigos muito bem conservados.
Aparentemente no interior de Portugal existem mais recursos disponíveis para a administração das cidades. Não vi isto nos grandes centros...
Ficamos em Viseu num hotel muito bom, entre as estreitas ruas do Centro antigo, numa excelente localização. Era um prédio também antigo, de paredes espessas, cujo restauro e reformas foram feitos de um modo cuidadoso, resultando num hotel com muito conforto.
Resolvemos visitar, no dia seguinte à nossa chegada, a famosa Serra da Estrela, onde se confecciona o também famoso queijo.
A recepcionista do hotel estimou para nós, um percurso até lá em 30 minutos, nada próximo das quase duas horas que levamos para conseguir chegar lá. Além do tempo empregado, foi preciso sobreviver ao trajeto muito sinuoso e íngreme! No caminho que percorremos até a cidade de Manteigas, encontramos situações bucólicas, como a visão de criadores de cabras passando pelo meio da estrada.
Foi uma viagem arriscada, pois as estradas eram muito estreitas e com curvas perigosas. Por sorte, a estrada tinha pouco movimento e nesta época do ano estava sem neve.
Chegando a Manteigas, cidade no coração da Serra, procuramos um centro de informações para nos orientarmos, o que foi infrutífero, pois a infra-estrutura de turismo local é muito ruim e escassa, características estas que encontramos em toda Portugal.
Sentamos então num bar e foi ali mesmo que provamos o famoso queijo, acompanhado com um delicioso vinho do porto.
A experiência foi tão boa que resolvemos comprar mais dois queijos para nos deliciarmos outras vezes.
Na volta para Viseu, perguntei por um caminho que, mesmo sendo mais longo, passasse pela divisa da Espanha, garantisse a nossa sobrevivência e levasse menos tempo para retornar.
Nesta noite jantamos num bom restaurante que ficava no centro histórico chamado "Muralhas da Sé". Lá provamos os famosos Míscaros ou cogumelos da região.
No dia seguinte, o gentilíssimo Sr. Pedro nos buscou no hotel e nos levou ao imponente prédio do órgão que cuida do vinho da região Dão. Era um edifício antigo, restaurado, de paredes muito espessas, dimensões enormes e com inúmeras salas destinadas às cerimônias.
Em seguida fomos à sua vinícola, onde conhecemos seu simpático pai, que também participa ativamente do trabalho na vinícola.
Nesta ocasião provamos o mesmo vinho envelhecido em duas barricas feitas de carvalho, porém de origens diferentes, uma francesa e a outra americana. A sensação proporcionada pelos vinhos era totalmente diferente. O vinho proveniente da barrica francesa tinha muito mais complexidade do que o vinho que vinha da barrica americana. Pude então experimentar algo que eu só conhecia na teoria.
Atendendo ao nosso pedido, Sr. Pedro nos levou às plantações de uvas, onde pudemos finalmente ver a vindima tão desejada! Foi emocionante acompanhar os colhedores de uvas, fazendo seu trabalho enquanto cantavam suas canções tradicionais.
Foi também ali, que pude pela primeira vez provar a uva Touriga Nacional. Esta uva estava deliciosa, porém sua semente é muito grande e a uva pequenina,ou seja, oferece pouco suco a ser saboreado.
Voltamos encantados com as experiências únicas, vividas ali, graças à gentileza do Sr. Pedro, que espero poder retribuir, quando ele vier ao Brasil.
No dia seguinte, nos dirigimos à cidade de Aveiro, para que pudéssemos provar o doce de ovos moles de Aveiro, pois não tínhamos encontrado este doce até o momento, em qualquer outra cidade de Portugal.
Apesar de o objetivo principal ser provar o famoso doce, esta cidade foi para nós, outra agradável surpresa. Entremeada por vários canais, com casas coloridas e outras com lindos azulejos, mais parecia uma pequenina obra de arte.
Os canais estavam repletos de barcos, com pinturas artesanais e dizeres maliciosos, tais como: "Este peixe dá vida" (com desenho de uma mulher nua saindo da praia), "Será que vi um camelo?" (com desenho de um camelo passando), "Sempre a mexer com as tetas" (com desenho de um homem ordenhando uma vaca e uma gostosona passando), "Esta é minha pátria querida, gosto de festa brava" (junto com o desenho de uma tourada).
As docerias se espalhavam pela cidade, onde finalmente encontramos os doces de ovos moles, apresentados de diversas formas, além dos outros doces tradicionais de ovos portugueses.
Rodeada pelos azulejos que decoravam as paredes das docerias, a população sentava ali, lendo e degustando aquelas especiarias.
Ao lado da bem conservada cidade antiga, com seu Mercado de peixes, encontramos um Shopping Center moderno, com lojas das grandes grifes da Europa.