Conheci o sr Domingos Alves de Souza, proprietário da vinícola Quinta da Gaivosa, da região do Douro no evento “Vinhos de Portugal" de 2017. Com sua simplicidade e mãos calejadas pelo trabalho por longo período, contou-nos suas histórias:
Ele me contou que nesta Quinta há um vinho denominado “Abandonado”, que tem um rótulo só datilografado com o nome. Ele é proveniente de umas vinhas que estavam abandonadas, devido à baixa produtividade, resultante do seu terreno rochoso e que seriam retiradas. Sr Alves resolveu então fazer um vinho com elas e então, este vem ganhando vários prêmios mundiais.
Naquele dia, sr Domingos estava muito contente, pois lhe mostraram uma revista, com ele na capa. Ele, apesar da idade, é considerado um pioneiro do Douro Moderno.
Quando planejei uma viagem à Portugal para 2018, marquei uma visita à Quinta da Gaivosa, onde fui recebido por Catarina, que é a nora do sr. Domingos, que estava trabalhando no campo, no período da colheita.
Catarina me levou à conhecer a vinícola, que é muito moderna, dentro de um prédio todo em concreto aparente. No fundo fica a antiga adega, que hoje é a casa do sr. Domingos.
Bem na entrada existe um corte no solo, que mostra o seu tipo de solo, quase impenetrável pelas videiras.
Conheci também Thiago, filho do sr Domingos, que estava trabalhando na vindima e me mostrou alguns detalhes da adega.
Entre eles havia um lagar computadorizado, onde o processo, que simula a pisa a pé, é programado num computador, transformando o processo tradicional, num sistema mecânico, não perdendo, no entanto, a qualidade do processo.
Depois de visitar a moderna adega, fui convidado a degustar alguns dos vinhos da vinícola:
Entre eles provei o delicioso Quinta da Gaivosa e alguns Portos.
O Porto que me chamou a atenção foi o Tawny 20 anos, vinho de muita história, pois resulta da mistura de vinhos produzidos por 3 gerações: Thiago, seu pai e o avô.
Agora apresento um breve histórico do caminho trilhado pelo sr. Domingos:
A produção de vinhos é uma tradição familiar para Domingos Alves de Sousa: o seu pai (Edmundo Alves de Sousa) e avô (Domingos Alves de Sousa) tinham já sido vitivinicultores do Douro. Mas Domingos Alves de Sousa abraçou a princípio um outra carreira. Tendo-se licenciado em Engenharia Civil, não resistiu porém ao duplo apelo (da terra e do sangue), e abandonou a sua actividade em 1987 para se dedicar em exclusivo à exploração das quintas que lhe couberam em herança e a outras que posteriormente adquiriu, nas quais tem vindo a executar um trabalho modelar de emparcelamento e de reestruturação das vinhas. A evolução da sua actividade vitivinícola reveste-se de aspectos interessantes, quase paradigmáticos e merece um pouco de história.
Durante muito tempo foi fornecedor das conhecidas e prestigiadas companhias Casa Ferreirinha e Sociedade dos Vinhos Borges. Mas os problemas que afectaram o sector nos finais da década de 80, que tiveram como consequência um aumento exagerado dos custos de produção, e em especial a catastrófica colheita de 1988, levaram-no a questionar a rentabilidade das suas explorações.E foi esse questionar o ponto de viragem.Tal como muitos outros viticultores durienses, afectados pela recessão em que a Região Demarcada se debatia, voltou-se para a valorização das "sobras" do Vinho do Porto, ou seja, o vinho de pasto do Douro, até então tradicionalmente subalternizado em relação ao vinho generoso.
Claro que esta mudança radical de atitude exigia mais do que simples boa vontade e desejo de vencer: exigia formação técnica e profissional. Frequentou assim cursos de viticultura e enologia e, munido desse lastro, lançou mãos à obra na reestruturação das suas vinhas e, decidido a trilhar o seu próprio caminho de produtor-engarrafador, construiu na sua Quinta da Gaivosa a adega onde daí em diante vinificaria a produção das restantes Quintas.
Efectuadas algumas experiências com diversas castas, seleccionou as que se revelaram mais aptas a produzir os melhores vinhos de Denominação de Origem Douro, e com elas produziu e lançou no mercado, em meados de 1992, aquele que seria o seu primeiro vinho: o Quinta do Vale da Raposa branco 1991, que desde logo cativou os apreciadores e mereceu as melhores referências. Era o início de um percurso recheado de sucessos que se arrastou até aos dias de hoje, e de que amanhã com certeza ainda iremos ouvir falar.
A qualidade e carácter singular dos vinhos da família Alves de Sousa tem sido amplamente reconhecida, com distinções e menções nas mais aclamadas publicações nacionais e internacionais.
O prestígio internacional conquistado tem também um paralelo muito especial em Portugal com destaque para os prémios “Produtor do Ano” em 1999 e novamente em 2006 atribuídos pela “Revista de Vinhos”, tornando-se o primeiro na história a receber por duas vezes a mais importante e prestigiada distinção para um Produtor de Vinhos em Portugal.
Aproveitem as experiências que venho vivendo, enquanto procuro conhecer melhor o mundo dos vinhos. Também vou falar da gastronomia e de viagens pelo mundo, incluindo as principais regiões produtoras de vinho. Saúde! E boa leitura!
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Belo post Alberto!
ResponderExcluirRecentemente provei o Quinta da Gaivosa e realmente é um ótimo vinho!
Saúde amigo!!!
Que bom falar com você, abraços
ExcluirApesar de virtualmente continuamos juntos
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