sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Os vinhos da Domaine Du Closel


Ficamos hospedados no Vale do Loire, com o objetivo de conhecer alguma vinícola na região próxima à cidade de Angers.


Chegando ao nosso hotel, procuramos com o auxílio do recepcionista, uma boa vinícola para visitarmos. A sugestão foi a Domaine Closel, que fica na região de Savennières, próxima ao nosso hotel.

Pesquisando sobre o vale, descobri que, a cultura da vinha no Loire, teve seu início por volta do ano 276, data em que o imperador romano Probus deu aos gauleses, o direito de plantar as uvas. No século seguinte, a evangelização de Anjou estendeu-se por toda região, bem como a cultura e o uso do vinho.

As vinhas se limitavam, no início, ao redor das grandes abadias de Angers. A produção do vinho, durante longo tempo, ficou restrita aos cuidados monásticos e senhorial.

Nos séculos XVII e XVIII, todas as terras perto do burgo de Savennières se cobriram de vinhas.

No século XIX, em consequência da revolução francesa e da venda dos bens nacionais, a cultura da vinha no Vale do Loire se modificou completamente, em razão da transformação da propriedade agrícola. O progresso da viticultura teve seu início, cuidando da enologia e da proteção da vegetação.

O progresso da viticultura se fez lentamente, no curso do século, pela ação dos proprietários rurais e urbanos interessados na obtenção de vinhos de qualidade e em manter a reputação dos vinhos do Loire, para melhorar sua comercialização.

Em 1858, promoveu-se, em Angers, a VIª Exposição da Sociedade Agrícola, com vinhos de todas regiões da França. Nesta ocasião, o vinho branco Possennière 1846, foi aclamado pelo júri como o melhor branco degustado.

A partir de 1840 iniciou-se, na região, uma pesquisa sobre a cepa tinta que melhor se adaptaria no local . Foram pesquisadas: Pinot Noir, Pinot Gris, Muscat, Groslot, Merlot, Gamais, Mâlain e Cabernet Sauvignon.

Chegou-se à conclusão que as cepas tintas que melhor se adaptavam à região eram: Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Gamay. Quanto às brancas selecionadas foram:  Chenin Blanc, Sauvignon Blanc e Muscadet.

A região vinícola de Savennières, a partir de 2001, passou a fazer parte do Patrimônio Mundial da UNESCO, do Vale do Loire, o que contribuiu para a divulgação de seus vinhos.


De nosso maravilhoso hotel, Château Noireux, pedimos para agendar uma visita ao Domaine du Closel, que nos aceitou prontamente.

Depois de certa dificuldade, conseguimos chegar à propriedade, com ajuda do GPS e de informações de gentis moradores da região.

Enquanto aguardávamos a proprietária da Vinícola, Mme. Eveline, nos deleitamos pelos seus jardins, bosques, hortas e lagos da propriedades, onde os cisnes nadavam tranquilamente.

Mme. Eveline foi nos encontrar nos jardins, mostrando a propriedade e suas plantações.
Dentro desta propriedade, encontramos dois tipos de solos diferentes, separados por uma estrada. Apenas em um dos lados, o solo era xistoso.

Ela também nos contou que o método de produção ali é biodinâmico, priorizando o seu equilíbrio biológico. Graças ao trabalho orgânico, a vida do solo, nesta propriedade, é respeitada e os microrganismos são ativos: o oxigênio entra em ação permitindo o máximo de troca entre o solo e a vinha. Desta forma, eles conseguem obter o famoso efeito terroir: combinação do solo e material vegetal, da circulação da água neste solo.

Em setembro, eles degustam os bagos de uvas de diferentes parcelas, para decidir a melhor data da colheita, em função do estilo do vinho desejado.

O suco da uva, sem fermento vai para a cuba, apenas com suas leveduras naturais, transformando-se pouco a pouco, no seu ritmo, revelando uma riqueza de complexidade aromática. A interrupção do processo é feita em função do que se quer obter; um vinho seco, intenso ou de finas bolhas.

Durante longos meses de criação, totalmente natural, o vinho se nutre das leveduras mortas, no processo de fermentação, que lhe dá um arredondamento,  textura suave e lhe permite encontrar o perfeito equilíbrio aromático.

Mme. Eveline designa seus vinhos pelas suas finalidades em: vinhos para conversar, vinhos gourmets, vinhos gastronômicos e vinhos raros (doces).

Os vinhos para conversar são:

Anjou Rouge: Este vinho é proveniente de 2 parcelas, localizadas ao pé do morro de solo argilo-xistoso.

Ele fica por 10 dias em maceração com a pele e é engarrafado na primavera seguinte à colheita. O vinho tem uma bela cor rubi e um aroma de frescor, frutado, com notas de cereja, e com um toque floral de rosas e violetas. O ataque na boca é suave e arredondado, com bons taninos. Combina com frios, carne grelhada, assada e com queijos leves.

La Jalousie branco seco: O vinho apresenta uma cor amarelada, que demonstra uma boa concentração de aromas. O solo é o mais seco e árido, ficando nas encostas mais no alto do morro. Ele resulta de uma assemblage de vinhas antigas e das novas cepas Chenin Blanc. As uvas são colhidas quando tem um tom dourado palha. É um vinho muito frutado na sua juventude, exalando um aroma cítrico, de pêssego e lima. No palato mostra notas de pêssego e cítricas, com boa mineralidade. Ele é bom como aperitivo, com carne branca e vegetais,  como aspargo.

Vinhos para gourmets:

Les Cailllardières Branco delicado: Este vinho vem de um solo muito arenoso, situado no alto do platô, que esteve ao fundo do mar. À circulação da água, a temperatura do solo é totalmente diferente das parcelas anteriores. As vinhas têm aproximadamente 75 anos. A colheita é mais tardia, a uva tem um tom caramelo, com um leve “passerillage”. O vinho tem aromas de flores brancas e jasmim. Ele tem um frescor no palato, com notas pronunciadas de frutas secas, amêndoas torradas, bem como lichia. Na boca ele é cremoso com boa persistência. O vinho é bom para aperitivos, com sushi, ou carne branca além de saladas com cogumelos.

Cabernet D’Anjou rosé adocicado: Este é um vinho que dá um agradável tom de framboesa e groselha no nariz. Ele deve ser servido fresco, acompanha sopa de melão, torta de pêssego ou bolo de chocolate amargo e até mesmo pato com laranja. Ele é um puro Cabernet Sauvignon de um solo ensolarado e com xisto.

Anjou Villages AOC Rouge Corsé: Neste vinho são utilizadas duas cepas: Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon. Sua cor é dum grená profundo e intenso, que revela sua complexidade. No nariz apresenta aromas de violeta, framboesa, morango, frutas negras e “subois”. Os taninos são delicados e robustos. Acompanha bem carnes vermelhas e queijos maturados.

Vinhos para gastronomia:

Le Clos du Papillon AOC Savennieres branco seco: Este é um vinho fora de série. Apresenta uma cor amarelo palha, anuncia uma boa concentração da uva Chenin Blanc. No nariz mostra uma fineza de aromas de amêndoa tostada, pêssego e cítricos. Na boca aparecem traços de frutas cítricas, jasmim e mel. É um bom vinho para acompanhar lagosta e mariscos.

Brut Sauvage Crémant de Loire AOC: Ele é feito da cepa Chenin Blanc e apresenta bolhas pequenas e persistentes.

Vinhos raros e untuosos:

Clos du Papillon AOC Savennieres 2003: Feito com a cepa Chenin Blanc, só é elaborado nos anos excepcionais. É um vinho com excelente mineralidade e complexidade. Acompanha bem lagostas, peixes e mariscos.

Les Coteaux 2002: Este vinho é feito de todas as parcelas da propriedade. É uma mistura que mostra a tipicidade da região. Pode-se sentir no nariz e na boca o pêssego, amêndoas tostadas e limão. Para acompanhar pode-se comer foie gras ou queijos ligeiros.

Depois de passearmos pela propriedade de Mme. Eveline, fomos para dentro da sede. Uma linda casa antiga e familiar. Ali fizemos uma degustação de vinhos de várias safras. Iniciamos pelos brancos, rosés espumantes, tintos e até mesmo um Eau de Pluie (eau de vie) excelente.

A visita a Domaine de Closel contribuiu muito para o meu conhecimento da região!  Até então eu conhecia mais vinhos da região este do Loire.

Agradeço a atenção e disponibilidade de Mme. Eveline, que além de ter sido uma gentil anfitriã, deu uma bela aula sobre os seus vinhos.

No final, comprei um vinho branco e outro tinto e recebi de presente um outro branco, que Mme. Eveline pediu generosamente, que eu escolhesse. Estes São os vinhos que trouxe de lá e já estão na minha adega para abrir oportunamente: Les Caillardières 2011 Ajou Villages 2010 e Clos du Papillon 2006.

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