Ficamos hospedados no Vale do Loire, com o
objetivo de conhecer alguma vinícola na região próxima à cidade de Angers.
Chegando ao nosso hotel, procuramos com o
auxílio do recepcionista, uma boa vinícola para visitarmos. A sugestão foi a
Domaine Closel, que fica na região de Savennières, próxima ao nosso hotel.
Pesquisando sobre o vale, descobri que, a
cultura da vinha no Loire, teve seu início por volta do ano 276, data em que o
imperador romano Probus deu aos gauleses, o direito de plantar as uvas. No século
seguinte, a evangelização de Anjou estendeu-se por toda região, bem como a
cultura e o uso do vinho.
As vinhas se limitavam, no início, ao redor
das grandes abadias de Angers. A produção do vinho, durante longo tempo, ficou
restrita aos cuidados monásticos e senhorial.
Nos séculos XVII e XVIII, todas as terras
perto do burgo de Savennières se cobriram de vinhas.
No século XIX, em consequência da revolução
francesa e da venda dos bens nacionais, a cultura da vinha no Vale do Loire se
modificou completamente, em razão da transformação da propriedade agrícola. O
progresso da viticultura teve seu início, cuidando da enologia e da proteção da
vegetação.
O progresso da viticultura se fez
lentamente, no curso do século, pela ação dos proprietários rurais e urbanos
interessados na obtenção de vinhos de qualidade e em manter a reputação dos
vinhos do Loire, para melhorar sua comercialização.
Em 1858, promoveu-se, em Angers, a VIª
Exposição da Sociedade Agrícola, com vinhos de todas regiões da França. Nesta
ocasião, o vinho branco Possennière 1846, foi aclamado pelo júri como o melhor
branco degustado.
A partir de 1840 iniciou-se, na região, uma
pesquisa sobre a cepa tinta que melhor se adaptaria no local . Foram
pesquisadas: Pinot Noir, Pinot Gris, Muscat, Groslot, Merlot, Gamais, Mâlain e
Cabernet Sauvignon.
Chegou-se à conclusão que as cepas tintas
que melhor se adaptavam à região eram: Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon,
Gamay. Quanto às brancas selecionadas foram: Chenin Blanc, Sauvignon Blanc e Muscadet.
A região vinícola de Savennières, a partir
de 2001, passou a fazer parte do Patrimônio Mundial da UNESCO, do Vale do
Loire, o que contribuiu para a divulgação de seus vinhos.
De nosso maravilhoso hotel, Château
Noireux, pedimos para agendar uma visita ao Domaine du Closel, que nos aceitou
prontamente.
Depois de certa dificuldade, conseguimos
chegar à propriedade, com ajuda do GPS e de informações de gentis moradores da
região.
Enquanto aguardávamos a proprietária da
Vinícola, Mme. Eveline, nos deleitamos pelos seus jardins, bosques, hortas e
lagos da propriedades, onde os cisnes nadavam tranquilamente.
Dentro desta propriedade, encontramos dois
tipos de solos diferentes, separados por uma estrada. Apenas em um dos lados, o
solo era xistoso.
Ela também nos contou que o método de produção
ali é biodinâmico, priorizando o seu equilíbrio biológico. Graças ao trabalho
orgânico, a vida do solo, nesta propriedade, é respeitada e os microrganismos
são ativos: o oxigênio entra em ação permitindo o máximo de troca entre o solo
e a vinha. Desta forma, eles conseguem obter o famoso efeito terroir:
combinação do solo e material vegetal, da circulação da água neste solo.
Em setembro, eles degustam os bagos de uvas
de diferentes parcelas, para decidir a melhor data da colheita, em função do
estilo do vinho desejado.
O suco da uva, sem fermento vai para a
cuba, apenas com suas leveduras naturais, transformando-se pouco a pouco, no
seu ritmo, revelando uma riqueza de complexidade aromática. A interrupção do
processo é feita em função do que se quer obter; um vinho seco, intenso ou de
finas bolhas.
Durante longos meses de criação, totalmente
natural, o vinho se nutre das leveduras mortas, no processo de fermentação, que
lhe dá um arredondamento, textura suave
e lhe permite encontrar o perfeito equilíbrio aromático.
Mme. Eveline designa seus vinhos pelas suas finalidades em:
vinhos para conversar, vinhos gourmets, vinhos gastronômicos e vinhos raros
(doces).
Os vinhos para
conversar são:
Anjou Rouge:
Este vinho é proveniente de 2 parcelas, localizadas ao pé do morro de solo
argilo-xistoso.
Ele fica por 10
dias em maceração com a pele e é engarrafado na primavera seguinte à colheita.
O vinho tem uma bela cor rubi e um aroma de frescor, frutado, com notas de
cereja, e com um toque floral de rosas e violetas. O ataque na boca é suave e
arredondado, com bons taninos. Combina com frios, carne grelhada, assada e com
queijos leves.
La Jalousie
branco seco: O vinho apresenta uma cor amarelada, que demonstra uma boa
concentração de aromas. O solo é o mais seco e árido, ficando nas encostas mais
no alto do morro. Ele resulta de uma assemblage de vinhas antigas e das novas
cepas Chenin Blanc. As uvas são colhidas quando tem um tom dourado palha. É um
vinho muito frutado na sua juventude, exalando um aroma cítrico, de pêssego e
lima. No palato mostra notas de pêssego e cítricas, com boa mineralidade. Ele é
bom como aperitivo, com carne branca e vegetais, como aspargo.
Vinhos para gourmets:
Les
Cailllardières Branco delicado: Este vinho vem de um solo muito arenoso,
situado no alto do platô, que esteve ao fundo do mar. À circulação da água, a
temperatura do solo é totalmente diferente das parcelas anteriores. As vinhas
têm aproximadamente 75 anos. A colheita é mais tardia, a uva tem um tom
caramelo, com um leve “passerillage”. O vinho tem aromas de flores brancas e
jasmim. Ele tem um frescor no palato, com notas pronunciadas de frutas secas,
amêndoas torradas, bem como lichia. Na boca ele é cremoso com boa persistência.
O vinho é bom para aperitivos, com sushi, ou carne branca além de saladas com
cogumelos.
Cabernet
D’Anjou rosé adocicado: Este é um vinho que dá um agradável tom de framboesa e
groselha no nariz. Ele deve ser servido fresco, acompanha sopa de melão, torta
de pêssego ou bolo de chocolate amargo e até mesmo pato com laranja. Ele é um puro
Cabernet Sauvignon de um solo ensolarado e com xisto.
Anjou Villages
AOC Rouge Corsé: Neste vinho são utilizadas duas cepas: Cabernet Franc e
Cabernet Sauvignon. Sua cor é dum grená profundo e intenso, que revela sua
complexidade. No nariz apresenta aromas de violeta, framboesa, morango, frutas
negras e “subois”. Os taninos são delicados e robustos. Acompanha bem carnes
vermelhas e queijos maturados.
Vinhos para
gastronomia:
Le Clos du
Papillon AOC Savennieres branco seco: Este é um vinho fora de série. Apresenta
uma cor amarelo palha, anuncia uma boa concentração da uva Chenin Blanc. No nariz
mostra uma fineza de aromas de amêndoa tostada, pêssego e cítricos. Na boca
aparecem traços de frutas cítricas, jasmim e mel. É um bom vinho para
acompanhar lagosta e mariscos.
Brut Sauvage
Crémant de Loire AOC: Ele é feito da cepa Chenin Blanc e apresenta bolhas
pequenas e persistentes.
Vinhos raros e untuosos:
Clos du
Papillon AOC Savennieres 2003: Feito com a cepa Chenin Blanc, só é elaborado
nos anos excepcionais. É um vinho com excelente mineralidade e complexidade.
Acompanha bem lagostas, peixes e mariscos.
Les Coteaux
2002: Este vinho é feito de todas as parcelas da propriedade. É uma mistura que
mostra a tipicidade da região. Pode-se sentir no nariz e na boca o pêssego,
amêndoas tostadas e limão. Para acompanhar pode-se comer foie gras ou queijos
ligeiros.
Depois
de passearmos pela propriedade de Mme. Eveline, fomos para dentro da sede. Uma
linda casa antiga e familiar. Ali fizemos uma degustação de vinhos de várias
safras. Iniciamos pelos brancos, rosés espumantes,
tintos e até mesmo um Eau de Pluie (eau de vie) excelente.
A visita a Domaine de Closel contribuiu muito
para o meu conhecimento da região! Até
então eu conhecia mais vinhos da região este do Loire.
Agradeço a atenção e disponibilidade de
Mme. Eveline, que além de ter sido uma gentil anfitriã, deu uma bela aula sobre
os seus vinhos.
No final, comprei um vinho branco e outro
tinto e recebi de presente um outro branco, que Mme. Eveline pediu generosamente,
que eu escolhesse. Estes São os vinhos que trouxe de lá e já estão na minha adega
para abrir oportunamente: Les Caillardières 2011 Ajou Villages 2010 e Clos du Papillon 2006.
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