Uma das vinícolas que visitei na Georgia, em 2019, foi a Tsikhelishvili wines que faz vinhos naturais, com métodos tradicionais. A uvas são produzidas e processadas de forma orgânica e envelhecidas em Kvevris (grandes vasos de terracota).
A vinícola está a uma altitude de 500 m em relação ao nível do mar, próxima ao rio Alazani com belas vistas para as montanhas do Cáucaso. Fica localizada na Vila Alvani, Akhmeta, região de Kakheti. Esta região é historicamente conhecida como o berço do vinho.
No caminho para esta vinícola, paramos para conhecer a bela Catedral Ortodoxa de Alaverdi, que tem uma origem muito antiga. Dizem que antes do cristianismo, o local era um templo pagão e passou a ser uma igreja cristã na segunda metade do séculoVI. Hoje em dia é uma igreja ortodoxa.
A sua ampliação, até o porte atual, ocorreu no século XI. Ela foi danificada e saqueada várias vezes e restaurada no século XV.
Para chegarmos ao local da vinícola, não foi nada fácil e sem o nosso guia, Misho Davitelashvili, provavelmente não acharíamos o local! Nenhuma placa, nenhum número, quase ninguém nas ruas.
A vinícola foi fundado por Aleqsi Tsikhelishvili que aprendeu na infância a fazer vinho com sua mãe. Hoje ele é o único responsável pela produção de uvas e dos vinhos, Vigneron (mevenakhe).
Quem nos recebeu nesta visita além de seu pai , foi o rapaz Beso que nos ajudou bastante com a conversa em inglês.
A primeira safra comercial de Aleqsi foi produzida em 2009. Sua família mantém as mesmas videiras desde o período soviético. Os vinhedos antigos são plantados com as clássicas variedades: Rkatsiteli e Mtsvane, brancas e menos de 100 videiras de Jgia, uma variedade tinta, quase extinta.
Nos seus 2,5 hectares, ele produz de 4.000 a 5.000 garrafas por ano, cerca de 200 são Jgia. O cultivo é orgânico e todas as frutas são cultivadas de forma natural. Para reter a umidade do solo na época mais quente, Aleqsi não corta a grama entre as parreiras. Os únicos tratamentos nas parreiras são: o uso de enxofre e cobre. Todo o trabalho desde o campo à colheita e a colocação das uvas no kvevri são manuais.
Durante a fermentação primária natural (sem adição de leveduras), o mosto é regularmente movimentado com ferramentas rudimentares.
Quando termina a fermentação, os kvevris são selados e tampados e o vinho fica sobre as cascas por um período de 6 a 7 meses. Depois disto o vinho é separado da casca e fica descansando no kvevri por um período variável de 6 meses para a cepa Jgia (2016) e de 18 meses para a Rkatsiteli (2015). Os vinhos completam a fermentação malolática e são engarrafados sem filtragem e adição de sulfito.
Os vinhos Tsikhelishvili são obras-primas talhadas à mão, vinhos feitos para serem bebidos mais para a mente do que o corpo. Aleqsi parece um simples fazendeiro com seus meios modestos, mas seu trabalho mostra o coração do artista e o toque do alquimista. Isto é melhor compreendido através do seu vinho Jgia. Esta é uma uva esquecida, que nas mãos de seu intérprete mais sensível, faz do vinho, uma história de amor. Os vinhos Tsikhelishvili são exoticamente perfumados e bem torneados e contam com mais nuances do que força.
Aleqsi preparou para nos receber, uma mesa com um embutido preparado por ele, além de pão e queijos para acompanhar os vinhos. Assim começou a prova de vinhos. Os vinhos em geral levam nome da cepa utilizada.
Começamos a prova pelo branco Mtsvane 2016, feito por uma uva de cor esverdeada, que resulta num vinho aromático, frutado e equilibrado. O vinho tem um tom amarelado intenso, é seco, com taninos perceptíveis, acidez marcante e toques de damasco seco.
Continuamos pelo Rkatsiteli 2016. Um vinho mais escuro, da cor âmbar, com um tanino marcante, balanceado por uma acidez intensa. Os aromas são de caramelo, mel e damasco.
O raro vinho da cepa Jgia 2016 tem cor de framboesa brilhante e muito translúcida, com um pouco de halo. No nariz ele é levemente mofado, com aromas de cogumelos, alguns tons frescos de groselha, um pouco de solo arenoso e uma pitada de umidade. O vinho é maduro, moderadamente encorpado e levemente adocicado, com sabores de morangos doces, terroso, com alta acidez e tanino bastante perceptível.
Depois da degustação, passeamos pela propriedade onde vi o destilador que a vinícola usa para fazer sua Chacha (fermentado da casca da uva. Tipo grappa).
Esta experiência de conhecer uma pequena vinícola foi interessante pois nos fez perceber idéia d empenho e a dificuldade por que passam estes produtores, que colocam suas vidas para produzir o que sabem fazer de melhor!
Aproveitem as experiências que venho vivendo, enquanto procuro conhecer melhor o mundo dos vinhos. Também vou falar da gastronomia e de viagens pelo mundo, incluindo as principais regiões produtoras de vinho. Saúde! E boa leitura!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Miolo chega na Argentina e desbrava seu quinto terroir
Grupo brasileiro adquire a Bodega Renacer, localizada em Luján de Cuyo - Mendoza, consolidando assim, sua internacionalização em uma das pri...
-
Com 10 anos, espumante que ficou submerso no mar da França chega ao mercado Objeto de desejo de colecionadores, rótulo traz luxo e exclusiv...
-
Graças à indicação de um amigo, fui conhecer em São Paulo, o restaurante MYK (abreviação de Mykonos), que fica na rua Peixoto Gomide 1972 (...
-
As experiências da Miolo em três terroirs brasileiros Do Vale dos Vinhedos, passando pela Campanha Gaúcha, até chegar ao Vale do São Francis...
Nenhum comentário:
Postar um comentário