terça-feira, 30 de outubro de 2012

Barra Grande, Bahia, Brasil


Há muito tempo ouço falar bem de Itacaré na Bahia. Recentemente conheci uma pessoa que me contou das belezas de lá, mais especificamente, da península de Marau, próximo a Itacaré, no sul da Bahia.

Para chegar a este paraíso, foi necessário pegar um voo da Gol até Ilhéus, com escala em Belo Horizonte, carro por 3 horas até Camamu, e mais meia hora de lancha até Barra Grande. No fim das contas saí de casa às 7 horas e cheguei na pousada em Taipus de Fora às 16 horas.

O povo local diz que existe um jeito mais fácil de é ir até Barra Grande, passando por uma difícil estrada de terra, a partir de Itacaré.

A Gol, por sua vez, piorou muito o seu serviço de bordo, chegando a servir água na hora do lanche e sanduíches pagos durante o voo. Na volta  no avião, nem água foi oferecida no trajeto de Ilhéus-Belo Horizonte.

Ou seja, os traslados não foram dos mais fáceis.

Lá em Barra Grande, ficamos na pousada Encanto da Lua, que é de propriedade de o simpático senhor Tatsuo, que nasceu na Manchúria, casado com uma baiana, sra Gilma. O filho deste casal, Goishi é quem administra o hotel, tendo uma atitude mais profissional e mais reservada que a de seus pais tão agradáveis.

A diária da pousada incluía café da manhã e jantar. No café tínhamos tapioca doce e salgada, uma delícia! A comida servida ali era honesta, porém, com pouca criatividade.

Como era nosso aniversário de casamento, levei para o jantar do primeiro dia uma champagne Laurent Perrier, que estava muito boa. Estranhei o fato de cobrarem rolha para um evento destes, até porque não tinha sido informado disto com antecedência.

As instalações eram confortáveis e de bom gosto. Os prédios das áreas comuns eram cobertos com sapé, dando de frente para a praia de Taipus de Fora, com um lindo mar em frente e coqueiros em toda costa.

Nesta pousada existe conexão wireless, porém é muito lenta, pois sua transmissão é por antena.

Os quartos da pousada são amplos, a decoração é moderna e aparentemente nova.

O preço do pacote foi bem razoável para a baixa temporada, R$2.300,00 por pessoa, por 7 noites, incluindo avião e translado. No revellion o preço, só da pousada, sobe para R$6.980,00, na mais barata suíte, pelo mesmo tempo.

Tivemos azar de pegar chuva, que em geral, nos persegue nas viagens para a Bahia. Acredito que de julho até outubro não é uma época boa para ir à Bahia.

Dizem que esta praia em frente ao hotel, Taipus de fora, é a segunda praia mais bonita do Brasil, depois de Fernando de Noronha.

Realmente ela é muito bonita, lembrando catálogo de paraísos como a Polinésia. Os coqueiros são abundantes, a areia clara e um mar bem limpo com água translúcida e muitos peixes.

Fora da alta temporada, pode-se escolher, entre várias praias, aquela que preferir, como se fosse só sua, pois não tem agito de pessoas.

Uma das atrações da praia são as piscinas naturais, constituídas por arrecifes, que formam verdadeiros aquários de peixe. Conseguimos ver uma boa quantidade deles  usando apenas máscara e snorkel.

Na praia de Taipus tem pouca opção de restaurante. Um deles que frequentamos foi o restaurante das Meninas, com um ar típico da Bahia.

Lá comemos: casquinha de siri (que vem numa casquinha de cerâmica), moqueca de camarão com banana da terra (divina), Camarão ao curry, com arroz de coco e manga e polvo grelhado (que estava um pouco queimado). Como a disponibilidade de vinho na região é terrível, optei por cerveja.

A outra opção era o restaurante Buda, de propriedade de um argentino, descaracterizado até no nome.

Fomos um dia a pé até a cidade de Barra Grande, pelas praias, um belo e cansativo passeio (por volta de 3 horas).

Almoçamos na cidade no restaurante Donana, da gentil dona Ana, uma deliciosa moqueca de camarão e polvo. O polvo estava um pouco duro.

Outro dia alugamos um quadriciclo  (R$150,00), para conhecer a península, necessário para andar pelas estradas de terra e areias de lá. É proibido passear com veículos motorizados pelas praias, só bicicleta.

Neste dia fomos até a Lagoa Azul, que não estava azul, sendo que mais bonita das lagoas era a lagoa do Cassange.

Fomos até as praias de Saquaíra e Algodões, onde paramos para uma cerva. Na ida fizemos um lindo caminho junto às praias, encontrando até macacos.

No fim do dia, fomos para a Ponta do Mutá, para ver o por do sol. Ficamos num bar de um simpático chileno, com bom gosto musical, até o sol se por. Foi uma deslumbrante experiência.

Resolvemos também fazer um passeio pela baia de Camamú, para conhecer as ilhas e também a cidadela de  Cajaíba, para conhecer os estaleiros onde são feitos desde pequenos barcos até escunas. Dizem que os barcos ali não tem um projeto formal, sendo utilizados os processos de conhecimento das pessoas da região, passados de geração para geração. Existe em Salvador um museu, onde estão os moldes das peças dos barcos, que foram trazidos pelos portugueses.

Almoçamos na ilha do Sapinho, depois de nadar nas águas de uma linda ilhota . Comemos deliciosas lagostas, simplesmente grelhadas.

A água estava um pouco fria, com muitas ondas e um vento forte.

Gostamos da viagem, mas aprendemos uma lição: não existe banco na região, o que torna necessário levar dinheiro para pagar contas, pois o sistema de cartão de crédito ali, que depende de conexão, não funciona com frequência.

sábado, 27 de outubro de 2012

A Borgonha e seus vinhos.


Participei de uma degustação de vinhos da Borgonha, de Louis Jadot, um dos maiores e mais tradicionais produtores e negociantes desta região, com vinhedos em algumas das apelações mais importantes da França.

A Maison Louis Jadot foi fundada em 1859, uma casa de negociant,que posteriormente comprou várias vinhas, incluindo Corton Charlemagne e Chevalier Montrachet Les Demoiselles.

Uma das regiões mais cultuadas por todos os enófilos, a Borgonha é uma "colcha de retalhos", com diferenças marcantes entre terroirs, separados entre eles por não mais que alguns metros.

Quando os romanos invadiram a região no século VI D.C. os celtas já produziam seu vinho. As uvas Pinot noir estavam em estado selvagem, na forma de arbustos, com mais folhas do que uvas. Ali os romanos introduziram suas técnicas no cultivo da uva, o que contribuiu para sua melhora na qualidade.

Posteriormente, com a conversão da população ao catolicismo, a igreja, e os monges de Cluni, além de proprietários ricos, passaram a cuidar da produção do vinho na região.

As propriedades da igreja foram divididas por Napoleão, através da sua reforma agrária.

As uvas utilizadas na região são: a tinta Pinot Noir, Gamay (nos Beaujolais) e a branca Chardonnay ( que parece ser da mesma família do Pinot Noir).

Na Borgonha, o principal título que aparece no rótulo é a Apellation, ficando o produtor em segundo lugar, em letras menores. Outra característica é de que no rótulo, não consta a uva, uma vez que as cepas são únicas em cada região.

Os franceses dizem que foi a Pinot Noir e suas parentes que escolheram o pessoal da Borgonha, e não o contrário.

Eles também não gostam do termo americano Wine Maker, pois dizem que 80% do processo é feito na própria vinha e não na cantina pelo homem.

Podemos dividir a Borgonha em regiões, sendo, de norte para Sul:

1) Chablis, onde o clima é muito frio e rude e são produzidos excelentes vinhos brancos. A região divide seus vinhos em categorias: Grand Cru (os melhores), Premieres Crus, seguido dos Chablis e Petit Chablis.

2) Côte D'Or, no centro da região, de Dijon a Saintenay, produzindo tintos e brancos notáveis. Esta região é dividida em : Côtes de Nuits e Côtes de Beaune.

Em Côte de Nuits são produzidos os melhores tintos, enquanto que em Côtes de Beaune são feitos excelentes brancos. De lá saem: Chambertin, Gevrey-Chambertin, Morey-Saint-Denis, Chambolle-Mussigny, Vougeot, Vosne-Romanée (onde se produz o legendário Romanée-Conti) e Nuits-St-Georges.

Em Côte de Beaune os principais vinhedos são: Aloxe- Corton (berço do Corton-Charlemagne), Pommard (tintos), Volnay, Mersault, Puligny-Montrachet (onde vamos encontrar o melhor, mais famoso e caro dos brancos, o Montrachet) e Chassagne-Montrachet. Aproximadamente 20% da produção é produzida por cepas brancas, das variedades Chardonnay e Aligoté.

3) Côte Chalanoise, onde são produzidos tintos e brancos inferiores aos anteriores (1 e 2).

4) Maconnais, onde são produzidos tintos e brancos inferiores aos anteriores.( 1,2,3) Exceção à essa regra é o branco Pouilly-Fuissé.

5) Beaujolais, que tem solo totalmente diferente do resto da Borgonha, e que fica mais ao sul, fazendo divisa com os Côtes du Rhone, utiliza, em geral, a uva Gammay. A produção desta região é maior que todas as restantes, resultando num vinho mais leve, frutado e agradável. Lá também são produzidos os Beaujolais Nouveau, com processo de maceração carbônica, que tem curta duração.

Os vinhos provados nesta degustação são de diferentes apelações, inclusive exemplares oriundos de vinhedos classificados como "grand" e "premier" crus.

A degustação foi conduzida por Pierre-Henry Gagey, presidente da Maison Louis Jadot, representada no Brasil pela Mistral.

Todos os vinhos da Casa tem o mesmo rótulo, com o rosto de Baco.

Vinhos degustados (os preços são em US$):

1) Chablis 2010, preço 76,50, 12,5% de álcool. Ele é feito com a uva Chardonnay e tem uma boa mineralidade e acidez, sendo suave  e potente. Sua produção é feita em cubas de Inox, não passando por barrica.

2) Corton Charlemagne 2004, preço 380,90, com 13,5% de álcool. É m vinho excelente, proveniente de Côtes de Baune, sendo, desde sua fermentação, processado em barricas de carvalho francês, por 18 meses, antes de ser engarrafado.

3) Chateau des Jacques 2009, preço 69,50 Moulin à Vent, com 13,5% de álcool. É um vinho Beaujolai tinto, da Appellation Village, feito com a uva Gamay, ficando por 6 meses em barril de carvalho usado. É um vinho que oferece boa relação custo / benefício.

4) Chambolle-Musigny 2003, preço 169,50, 13,5% de álcool. É um vinho produzido em Côtes de Nuits, Appellation Village, feito com a uva Pinot Noir. O vinho é fermentado por 3 a 4 semanas, passando depois por barrica de carvalho francês, por 12 a 15 meses. É muito concentrado pois resultou de uma safra muito quente e seca, sendo carnudo e potente.

5) Gevrey-Chambertin 1er Cru Les Cazetiers 2006, preço 209,00, 13,5% de álcool. É um vinho produzido em Côtes de Nuits, Appellation Premiere cru, sendo fermentado por 3 a 4 semanas e envelhecido por 15 meses em barril de carvalho francês. É um vinho robusto, profundo, com sabor de frutas vermelhas, com boa estrutura e bouquet.

6) Corton Grèves Grand Cru 2006, preço 227,50, 13,5% de álcool. Ele é feito em Côte de Baune, Appellation Grand Cru, sendo fermentado por 3 a 4 semanas e envelhecido por 18 a 20 meses em barril de carvalho francês. Para Pierre, este vinho não está pronto ainda, devendo envelhecer por mais tempo para se chegar ao ápice.

Após provar deste último vinho, fiquei com uma questão interessante:
Os melhores vinhos são provados e recebem notas antes mesmo de chegarem no seu ponto ideal. Portanto as notas são dadas baseadas no que eles são mas na expectativa de como ele ficará no seu futuro.

Esta é uma questão delicada, pois as notas em geral, definem a qualidade e o preço do vinho, que pode, no futuro não atingir aquela expectativa.

A outra questão que surgiu é que o apresentador, como bom francês, é um verdadeiro marqueteiro. 

Ele dizia que a safra de 2006 foi muito boa, mas que foi abafada pela de 2005, esta sim  
excepcional.

Da mesma forma disse que a safra 2003 foi difícil, por ser muito quente e seca, produzindo vinhos com boa capacidade de envelhecimento.

Ou seja, o francês, como bom marqueteiro que é, valoriza os seus vinhos e justifica quando eles tem falhas, no sentido de vender melhor os seus produtos.

O Mais do que uma prova, este evento foi uma verdadeira aula sobre a Borgonha e seus vinhos, o que a tornou muito interessante!

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