sábado, 27 de outubro de 2012

A Borgonha e seus vinhos.


Participei de uma degustação de vinhos da Borgonha, de Louis Jadot, um dos maiores e mais tradicionais produtores e negociantes desta região, com vinhedos em algumas das apelações mais importantes da França.

A Maison Louis Jadot foi fundada em 1859, uma casa de negociant,que posteriormente comprou várias vinhas, incluindo Corton Charlemagne e Chevalier Montrachet Les Demoiselles.

Uma das regiões mais cultuadas por todos os enófilos, a Borgonha é uma "colcha de retalhos", com diferenças marcantes entre terroirs, separados entre eles por não mais que alguns metros.

Quando os romanos invadiram a região no século VI D.C. os celtas já produziam seu vinho. As uvas Pinot noir estavam em estado selvagem, na forma de arbustos, com mais folhas do que uvas. Ali os romanos introduziram suas técnicas no cultivo da uva, o que contribuiu para sua melhora na qualidade.

Posteriormente, com a conversão da população ao catolicismo, a igreja, e os monges de Cluni, além de proprietários ricos, passaram a cuidar da produção do vinho na região.

As propriedades da igreja foram divididas por Napoleão, através da sua reforma agrária.

As uvas utilizadas na região são: a tinta Pinot Noir, Gamay (nos Beaujolais) e a branca Chardonnay ( que parece ser da mesma família do Pinot Noir).

Na Borgonha, o principal título que aparece no rótulo é a Apellation, ficando o produtor em segundo lugar, em letras menores. Outra característica é de que no rótulo, não consta a uva, uma vez que as cepas são únicas em cada região.

Os franceses dizem que foi a Pinot Noir e suas parentes que escolheram o pessoal da Borgonha, e não o contrário.

Eles também não gostam do termo americano Wine Maker, pois dizem que 80% do processo é feito na própria vinha e não na cantina pelo homem.

Podemos dividir a Borgonha em regiões, sendo, de norte para Sul:

1) Chablis, onde o clima é muito frio e rude e são produzidos excelentes vinhos brancos. A região divide seus vinhos em categorias: Grand Cru (os melhores), Premieres Crus, seguido dos Chablis e Petit Chablis.

2) Côte D'Or, no centro da região, de Dijon a Saintenay, produzindo tintos e brancos notáveis. Esta região é dividida em : Côtes de Nuits e Côtes de Beaune.

Em Côte de Nuits são produzidos os melhores tintos, enquanto que em Côtes de Beaune são feitos excelentes brancos. De lá saem: Chambertin, Gevrey-Chambertin, Morey-Saint-Denis, Chambolle-Mussigny, Vougeot, Vosne-Romanée (onde se produz o legendário Romanée-Conti) e Nuits-St-Georges.

Em Côte de Beaune os principais vinhedos são: Aloxe- Corton (berço do Corton-Charlemagne), Pommard (tintos), Volnay, Mersault, Puligny-Montrachet (onde vamos encontrar o melhor, mais famoso e caro dos brancos, o Montrachet) e Chassagne-Montrachet. Aproximadamente 20% da produção é produzida por cepas brancas, das variedades Chardonnay e Aligoté.

3) Côte Chalanoise, onde são produzidos tintos e brancos inferiores aos anteriores (1 e 2).

4) Maconnais, onde são produzidos tintos e brancos inferiores aos anteriores.( 1,2,3) Exceção à essa regra é o branco Pouilly-Fuissé.

5) Beaujolais, que tem solo totalmente diferente do resto da Borgonha, e que fica mais ao sul, fazendo divisa com os Côtes du Rhone, utiliza, em geral, a uva Gammay. A produção desta região é maior que todas as restantes, resultando num vinho mais leve, frutado e agradável. Lá também são produzidos os Beaujolais Nouveau, com processo de maceração carbônica, que tem curta duração.

Os vinhos provados nesta degustação são de diferentes apelações, inclusive exemplares oriundos de vinhedos classificados como "grand" e "premier" crus.

A degustação foi conduzida por Pierre-Henry Gagey, presidente da Maison Louis Jadot, representada no Brasil pela Mistral.

Todos os vinhos da Casa tem o mesmo rótulo, com o rosto de Baco.

Vinhos degustados (os preços são em US$):

1) Chablis 2010, preço 76,50, 12,5% de álcool. Ele é feito com a uva Chardonnay e tem uma boa mineralidade e acidez, sendo suave  e potente. Sua produção é feita em cubas de Inox, não passando por barrica.

2) Corton Charlemagne 2004, preço 380,90, com 13,5% de álcool. É m vinho excelente, proveniente de Côtes de Baune, sendo, desde sua fermentação, processado em barricas de carvalho francês, por 18 meses, antes de ser engarrafado.

3) Chateau des Jacques 2009, preço 69,50 Moulin à Vent, com 13,5% de álcool. É um vinho Beaujolai tinto, da Appellation Village, feito com a uva Gamay, ficando por 6 meses em barril de carvalho usado. É um vinho que oferece boa relação custo / benefício.

4) Chambolle-Musigny 2003, preço 169,50, 13,5% de álcool. É um vinho produzido em Côtes de Nuits, Appellation Village, feito com a uva Pinot Noir. O vinho é fermentado por 3 a 4 semanas, passando depois por barrica de carvalho francês, por 12 a 15 meses. É muito concentrado pois resultou de uma safra muito quente e seca, sendo carnudo e potente.

5) Gevrey-Chambertin 1er Cru Les Cazetiers 2006, preço 209,00, 13,5% de álcool. É um vinho produzido em Côtes de Nuits, Appellation Premiere cru, sendo fermentado por 3 a 4 semanas e envelhecido por 15 meses em barril de carvalho francês. É um vinho robusto, profundo, com sabor de frutas vermelhas, com boa estrutura e bouquet.

6) Corton Grèves Grand Cru 2006, preço 227,50, 13,5% de álcool. Ele é feito em Côte de Baune, Appellation Grand Cru, sendo fermentado por 3 a 4 semanas e envelhecido por 18 a 20 meses em barril de carvalho francês. Para Pierre, este vinho não está pronto ainda, devendo envelhecer por mais tempo para se chegar ao ápice.

Após provar deste último vinho, fiquei com uma questão interessante:
Os melhores vinhos são provados e recebem notas antes mesmo de chegarem no seu ponto ideal. Portanto as notas são dadas baseadas no que eles são mas na expectativa de como ele ficará no seu futuro.

Esta é uma questão delicada, pois as notas em geral, definem a qualidade e o preço do vinho, que pode, no futuro não atingir aquela expectativa.

A outra questão que surgiu é que o apresentador, como bom francês, é um verdadeiro marqueteiro. 

Ele dizia que a safra de 2006 foi muito boa, mas que foi abafada pela de 2005, esta sim  
excepcional.

Da mesma forma disse que a safra 2003 foi difícil, por ser muito quente e seca, produzindo vinhos com boa capacidade de envelhecimento.

Ou seja, o francês, como bom marqueteiro que é, valoriza os seus vinhos e justifica quando eles tem falhas, no sentido de vender melhor os seus produtos.

O Mais do que uma prova, este evento foi uma verdadeira aula sobre a Borgonha e seus vinhos, o que a tornou muito interessante!

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