Participei
de uma degustação de
vinhos da Borgonha, de Louis Jadot, um dos maiores e mais tradicionais produtores
e negociantes desta região, com
vinhedos em algumas das apelações
mais importantes da França.
A Maison Louis Jadot foi fundada em
1859, uma casa de ”negociant”,que posteriormente comprou várias vinhas, incluindo Corton Charlemagne e Chevalier
Montrachet Les Demoiselles.
Uma das regiões
mais cultuadas por todos os enófilos, a Borgonha é uma "colcha de retalhos", com diferenças
marcantes entre terroirs, separados entre eles por não mais que alguns metros.
Quando os romanos invadiram a região no século
VI D.C. os celtas já produziam seu vinho. As uvas Pinot noir estavam em
estado selvagem, na forma de arbustos, com mais folhas do que uvas. Ali os
romanos introduziram suas técnicas no cultivo da uva, o que contribuiu para sua
melhora na qualidade.
Posteriormente, com a conversão da
população ao
catolicismo, a igreja, e os monges de Cluni, além de proprietários ricos, passaram a cuidar da produção do
vinho na região.
As propriedades da igreja foram
divididas por Napoleão, através da sua reforma agrária.
As uvas utilizadas na região são: a
tinta Pinot Noir, Gamay (nos Beaujolais) e a branca Chardonnay ( que parece ser
da mesma família do Pinot Noir).
Na Borgonha, o principal título que aparece no rótulo é a Apellation,
ficando o produtor em segundo lugar, em letras menores. Outra característica é
de que no rótulo, não consta a uva, uma vez que as cepas são únicas em cada
região.
Os franceses dizem que foi a Pinot Noir e suas parentes que escolheram o
pessoal da Borgonha, e não o contrário.
Eles também não gostam do termo americano Wine Maker, pois dizem que 80%
do processo é feito na própria vinha e não na cantina pelo homem.
Podemos dividir a Borgonha em regiões,
sendo, de norte para Sul:
1) Chablis, onde o clima é muito
frio e rude e são produzidos excelentes vinhos brancos. A região
divide seus vinhos em categorias: Grand Cru (os melhores), Premieres Crus,
seguido dos Chablis e Petit Chablis.
2) Côte D'Or, no centro da região, de Dijon a Saintenay, produzindo tintos e brancos
notáveis.
Esta região é
dividida em : Côtes de Nuits e Côtes de Beaune.
Em Côte de Nuits são produzidos os melhores tintos, enquanto que em Côtes de
Beaune são
feitos excelentes brancos. De lá saem: Chambertin, Gevrey-Chambertin,
Morey-Saint-Denis, Chambolle-Mussigny, Vougeot, Vosne-Romanée
(onde se produz o legendário Romanée-Conti) e Nuits-St-Georges.
Em Côte de Beaune os principais vinhedos são:
Aloxe- Corton (berço do Corton-Charlemagne), Pommard (tintos), Volnay,
Mersault, Puligny-Montrachet (onde vamos encontrar o melhor, mais famoso e caro
dos brancos, o Montrachet) e Chassagne-Montrachet. Aproximadamente 20% da produção é produzida
por cepas brancas, das variedades Chardonnay e Aligoté.
3) Côte Chalanoise, onde são produzidos tintos e brancos inferiores aos
anteriores (1 e 2).
4) Maconnais, onde são produzidos
tintos e brancos inferiores aos anteriores.( 1,2,3) Exceção à essa
regra é o
branco Pouilly-Fuissé.
5) Beaujolais, que tem solo totalmente
diferente do resto da Borgonha, e que fica mais ao sul, fazendo divisa com os Côtes du
Rhone, utiliza, em geral, a uva Gammay. A produção desta região é maior que todas as restantes, resultando num vinho
mais leve, frutado e agradável. Lá também são produzidos os Beaujolais Nouveau, com processo de
maceração carbônica, que
tem curta duração.
Os vinhos provados nesta degustação são de
diferentes apelações, inclusive exemplares oriundos de vinhedos
classificados como "grand" e "premier" crus.
A degustação foi conduzida por Pierre-Henry Gagey, presidente da
Maison Louis Jadot, representada no Brasil pela Mistral.
Todos os vinhos da Casa tem o mesmo
rótulo,
com o rosto de Baco.
Vinhos degustados (os preços são em
US$):
1) Chablis 2010, preço
76,50, 12,5% de álcool. Ele é feito com a uva Chardonnay e tem uma boa mineralidade
e acidez, sendo suave e potente. Sua
produção é feita
em cubas de Inox, não passando por barrica.
2) Corton Charlemagne 2004, preço
380,90, com 13,5% de álcool. É m vinho excelente, proveniente de Côtes de
Baune, sendo, desde sua fermentação, processado em barricas de carvalho francês, por
18 meses, antes de ser engarrafado.
3) Chateau des Jacques 2009, preço
69,50 Moulin à Vent, com 13,5% de álcool. É um vinho Beaujolai tinto, da Appellation Village,
feito com a uva Gamay, ficando por 6 meses em barril de carvalho usado. É um
vinho que oferece boa relação custo / benefício.
4) Chambolle-Musigny 2003, preço
169,50, 13,5% de álcool. É um vinho produzido em Côtes de Nuits, Appellation Village, feito com a uva
Pinot Noir. O vinho é fermentado por 3 a 4 semanas, passando depois por
barrica de carvalho francês, por 12 a 15 meses. É muito concentrado pois resultou de uma safra muito
quente e seca, sendo carnudo e potente.
5) Gevrey-Chambertin 1er Cru Les
Cazetiers 2006, preço 209,00, 13,5% de álcool. É um vinho produzido em Côtes de Nuits, Appellation Premiere cru, sendo
fermentado por 3 a 4 semanas e envelhecido por 15 meses em barril de carvalho
francês. É um
vinho robusto, profundo, com sabor de frutas vermelhas, com boa estrutura e
bouquet.
6) Corton Grèves
Grand Cru 2006, preço 227,50, 13,5% de álcool. Ele é feito em Côte de Baune, Appellation Grand Cru, sendo fermentado
por 3 a 4 semanas e envelhecido por 18 a 20 meses em barril de carvalho francês.
Para Pierre, este vinho não está pronto ainda, devendo envelhecer por mais tempo para
se chegar ao ápice.
Após provar deste último vinho, fiquei com uma questão interessante:
Os melhores vinhos são provados e recebem notas antes mesmo de chegarem
no seu ponto ideal. Portanto as notas são dadas baseadas no que eles são mas na
expectativa de como ele ficará no seu futuro.
Esta é uma questão delicada, pois as notas em geral, definem a qualidade
e o preço do vinho, que pode, no futuro não atingir aquela expectativa.
A outra questão que surgiu é que o apresentador, como bom francês, é um verdadeiro
marqueteiro.
Ele dizia que a safra de 2006 foi muito boa, mas que foi abafada pela de
2005, esta sim
excepcional.
Da mesma forma disse que a safra 2003 foi difícil, por ser muito quente
e seca, produzindo vinhos com boa capacidade de envelhecimento.
Ou seja, o francês, como bom marqueteiro que é, valoriza os seus vinhos
e justifica quando eles tem falhas, no sentido de vender melhor os seus
produtos.
O Mais do que uma prova, este evento foi uma verdadeira aula sobre a
Borgonha e seus vinhos, o que a tornou muito interessante!
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