quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O vinho do Porto e sua história


Participei de um excelente curso sobre vinho do Porto, dado por José Carlos Santanita, dono da empresa Wine Sense Brasil, e ele me inspirou a escrever um pouco a respeito.

Inicialmente vou falar do rio Douro e a história do vinho do Porto, ali produzido.

Ao meu ver, o Douro é, dos lugares onde estive, o mais bonito de Portugal.

O nome do rio Douro veio da sua cor dourada, devido à turbulência das águas do Douro, que arrastava a terra do fundo do rio. Hoje em dia ele é mais calmo, devido às barragens construídas no seu percurso.

O processo de plantação das vinhas, foi feito por homens tenazes, pois o Douro tem um solo de xisto e granito, difícil de ser trabalhado. Este solo foi domado com ferramentas rudimentares. Cada terraça, feita de pedra, foi quebrada e montada à mão.

O solo xistoso do Douro tem uma forma interessante, em placas verticais, que permitem que as raízes das vinhas se aprofundem. Ele também tem uma boa drenagem e a água que fica ali retida, evapora posteriormente subindo para as parreiras.

O transporte do vinho, para Vila Nova de Gaia, de onde era exportado, era feito em pequenos barcos, o que representava uma temeridade, devido às corredeiras do rio. Muita gente morreu e muito vinho foi perdido.

Num destes acidentes, estava a famosa Dona Antônia Ferreira, proeminente produtora de vinhos, chamada de “rainha do Douro. Esta mulher teve a sorte de sobreviver a um naufrágio, graças a sua saia grande e rodada que fez com que ela boiasse e chegasse até a margem do rio.

Rabelo era o nome do barco que transportava o vinho. Seu nome veio do fato das pessoas dizerem: “Que rabo belo tem este barco,” devido à pintura feita no leme. Na frente do barco ia uma pessoa para orientar o piloto, que por sua vez, ficava no leme.

As vinhas consideradas jardins suspensos do Douro foram consagradas como patrimônio da humanidade, em 2001, pela UNESCO.

Os egípcios movimentaram milhões de metros cúbicos de pedra para construir as pirâmides, para honrar a morte. Já os dourienses fizeram o mesmo com suas vinhas, para celebrar a vida.

Os ingleses valorizaram a região, quando descobriram que, adicionando aguardente vínica ao mosto do vinho pisado por 72 horas, suspendiam a sua fermentação. Desta forma, este processo garantia a qualidade e longevidade do produto, além de manter o açúcar natural do vinho,  o que resultava num produto totalmente diferente dos demais vinhos até então.

Esta descoberta ocorreu em 1678, pois os vinhos antes produzidos, chamados de ”vinhos de Lisboa” (este nome era dado pois os vinhos iam para Lisboa, de onde eram exportados) tinham uma qualidade inferior.

A aguardente vínica é produzida através da destilação do vinho(teor alcoólico de 77%), enquanto que a bagaceira (aguardente feito em Portugal) resulta da destilação do resíduo da prensagem das uvas.

Graças ao tino comercial e senso de oportunidade, os Ingleses passaram a fixar residência na cidade do Porto.

O nome “Vinho do Porto” foi usado pela primeira vez em 1675, quando foi registrado pelo embaixador de Portugal em Paris.

O principal impulso para a produção do vinho do Porto ocorreu em 1667. Foi nesta ocasião que a Inglaterra embargou o comércio com a França, sua rival, passando a comprar mais vinho do Porto, para compensar a falta do vinho  francês.

O vinho do Porto fez nome aproveitando-se dos anos de guerra entre ingleses e franceses. Sua importação aumentou nesta época, saltando de 405 pipas para 12.465, em 1692.

Nesta época esta região viveu o seu apogeu, estradas foram abertas, vinhas foram plantadas ao longo do Douro e afluentes e contatos foram firmados com exportadores.

Em 1703 Portugal firmou um tratado com a Inglaterra, que baixava o imposto de importação de vinhos do Porto. Portugal também baixou impostos  para produtos têxteis ingleses. Dizem que isto provocou o atraso industrial de Portugal.

Em 1750, os ingleses, maiores compradores do Porto, começaram a questionar a qualidade do vinho do Porto. Passaram então a comprar vinhos mais caros da França, o que provocou a decadência da região do Douro.

O povo do Douro chegou a um ponto de tamanha pobreza, que aceitou até mesmo a prostituição das próprias filhas, para que os ingleses comprassem seus vinhos.

O Marquês de Pombal criou em 1756 a Cia Geral de Agricultura e Vinhas do Alto Douro. Esta companhia que passou a ter o monopólio da comercialização do vinho, tinha também o objetivo de equilibrar a produção e assegurar a qualidade e o preço do produto.

Dos 400 estabelecimentos que comercializavam vinho no Porto, foram fechados 305 e somente autorizados o funcionamento de 95. Em 1757 os taberneiros fizeram então, uma revolta. O Marquês de Pombal classificou esta revolta como crime de lesa-majestade, condenando 375 homens, 50 mulheres e 17 jovens. Destas pessoas, 26 foram enforcadas e esquartejadas, 59 exiladas e o restante condenadas ao açoite, galés, prisão, desterro e confisco dos bens.

Um dos artigos, da criação da Cia, dizia que todo excedente de vinhos que a Inglaterra não adquirisse, deveria ser comprada pelo Brasil.

A Cia abriu estradas, estimulou o oficio de Tanoaria (construção de balseiros -toneis grandes), criou uma escola de contabilidade, e outra escola de formação de pilotos de navegação.

Todo um sistema de infraestrutura foi criado, sendo que a obra mais importante foi a desobstrução do rio Douro, onde existiam formações rochosas que comprometiam a navegação.

Nesta época foi feita a demarcação da região, resultando na primeira área demarcada no mundo do vinho.

Esta fase foi até 1777, quando Pombal foi demitido e todos partidários mandados para o exílio, mas a Cia não morreu.

Em 1807 Dom João fugiu para o Brasil, concedendo à Cia, o privilégio exclusivo da venda de vinho do Porto engarrafado.

Como a coroa portuguesa se estabeleceu no Rio de Janeiro, a capital do Brasil teve que, rapidamente, incorporar os hábitos trazidos de Portugal, dos cortesãos, nas artes de receber, vestir, comer e beber. Nesta época o bacalhau foi introduzido na culinária brasileira.

No período de 1836/37, uma forte crise comercial abalou a Inglaterra, provocando um declínio na importação e exportação do vinho do Porto.

O vinho do Porto ainda foi afetado em 1845 pela gomose (mal negro) e em 1863 pela filoxera, provocando uma miséria total na região. A solução para estes males veio com a enxertia da cepas do Douro em ”cavalos” americanos.

Com a crise, muitos proprietário de terras faliram e tiveram que vendê-las  a outros donos.  Os novos donos investiram na região e aperfeiçoaram procedimentos, melhorando a qualidade do vinho. Desta forma o Douro voltou a produzir vinhos de qualidade internacional.

Em 1863 foi introduzido o rótulo nas garrafas, que antes eram identificadas com marcas em relevo, no próprio vidro.

Em 1897 foi construída a ferrovia que ia do Porto até o Pinhão, contribuindo para o progresso da região. Na estação do Pinhão, onde estive, foram instalados belos painéis de azulejo que mostravam 24 cenas da paisagem e da vindima no Douro.

O ano de 1930 trouxe uma forte transformação político-social para Portugal, com Ascenção ao poder de Salazar. Duas gerações suportaram seus  mandos e desmandos até 1968.

Em 1932, o ministro da agricultura cria a Federação Sindical dos Viticultores da Região do Douro, com a função de disciplinar e proteger a produção do vinho.

A Casa do Douro atualizou o cadastro de produtores e distribuiu o benefício de definir a quantidade que cada produtor poderia fazer, além de socorrer financeiramente os produtores.

O mesmo ministro criou em 1933, o Instituto do Vinho do Porto (IVP) e o Grêmio de Exportadores do vinho do Porto, completando o tripé que mantem vivo o néctar do Douro.

O IVP, entre suas funções, criou a lei do Terço, que obriga os exportadores de vinho a manter uma pipa em estoque, para cada duas vendidas.

Desta forma, a produção e comercialização do Vinho do Porto é conduzida até os dias de hoje.

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