Participei de um excelente curso sobre
vinho do Porto, dado por José Carlos Santanita, dono da empresa Wine Sense
Brasil, e ele me inspirou a escrever um pouco a respeito.
Inicialmente vou falar do rio Douro e a
história do vinho do Porto, ali produzido.
Ao meu ver, o Douro é, dos lugares onde
estive, o mais bonito de Portugal.
O nome do rio Douro veio da sua cor
dourada, devido à turbulência das águas do Douro, que arrastava a terra do
fundo do rio. Hoje em dia ele é mais calmo, devido às barragens construídas no
seu percurso.
O processo de plantação das vinhas, foi
feito por homens tenazes, pois o Douro tem um solo de xisto e granito, difícil
de ser trabalhado. Este solo foi domado com ferramentas rudimentares. Cada
terraça, feita de pedra, foi quebrada e montada à mão.
O solo xistoso do Douro tem uma forma
interessante, em placas verticais, que permitem que as raízes das vinhas se
aprofundem. Ele também tem uma boa drenagem e a água que fica ali retida,
evapora posteriormente subindo para as parreiras.
O transporte do vinho, para Vila Nova de
Gaia, de onde era exportado, era feito em pequenos barcos, o que representava
uma temeridade, devido às corredeiras do rio. Muita gente morreu e muito vinho
foi perdido.
Num destes acidentes, estava a famosa Dona
Antônia Ferreira, proeminente produtora de vinhos, chamada de “rainha do Douro.
Esta mulher teve a sorte de sobreviver a um naufrágio, graças a sua saia grande
e rodada que fez com que ela boiasse e chegasse até a margem do rio.
Rabelo era o nome do barco que transportava
o vinho. Seu nome veio do fato das pessoas dizerem: “Que rabo belo tem este
barco,” devido à pintura feita no leme. Na frente do barco ia uma pessoa para
orientar o piloto, que por sua vez, ficava no leme.
As vinhas consideradas jardins suspensos do
Douro foram consagradas como patrimônio da humanidade, em 2001, pela UNESCO.
Os egípcios movimentaram milhões de metros
cúbicos de pedra para construir as pirâmides, para honrar a morte. Já os dourienses
fizeram o mesmo com suas vinhas, para celebrar a vida.
Os ingleses valorizaram a região, quando
descobriram que, adicionando aguardente vínica ao mosto do vinho pisado por 72
horas, suspendiam a sua fermentação. Desta forma, este processo garantia a
qualidade e longevidade do produto, além de manter o açúcar natural do
vinho, o que resultava num produto
totalmente diferente dos demais vinhos até então.
Esta descoberta ocorreu em 1678, pois os
vinhos antes produzidos, chamados de ”vinhos de Lisboa” (este nome era dado
pois os vinhos iam para Lisboa, de onde eram exportados) tinham uma qualidade
inferior.
A aguardente vínica é produzida através da
destilação do vinho(teor alcoólico de 77%), enquanto que a bagaceira (aguardente feito em Portugal)
resulta da destilação do resíduo da prensagem das uvas.
Graças ao tino comercial e senso de
oportunidade, os Ingleses passaram a fixar residência na cidade do Porto.
O nome “Vinho do Porto” foi usado pela
primeira vez em 1675, quando foi registrado pelo embaixador de Portugal em
Paris.
O principal impulso para a produção do
vinho do Porto ocorreu em 1667. Foi nesta ocasião que a Inglaterra embargou o
comércio com a França, sua rival, passando a comprar mais vinho do Porto, para
compensar a falta do vinho francês.
O vinho do Porto fez nome aproveitando-se
dos anos de guerra entre ingleses e franceses. Sua importação aumentou nesta
época, saltando de 405 pipas para 12.465, em 1692.
Nesta época esta região viveu o seu apogeu,
estradas foram abertas, vinhas foram plantadas ao longo do Douro e afluentes e
contatos foram firmados com exportadores.
Em 1703 Portugal firmou um tratado com a
Inglaterra, que baixava o imposto de importação de vinhos do Porto. Portugal
também baixou impostos para produtos
têxteis ingleses. Dizem que isto provocou o atraso industrial de Portugal.
Em 1750, os ingleses, maiores compradores
do Porto, começaram a questionar a qualidade do vinho do Porto. Passaram então
a comprar vinhos mais caros da França, o que provocou a decadência da região do
Douro.
O povo do Douro chegou a um ponto de
tamanha pobreza, que aceitou até mesmo a prostituição das próprias filhas, para
que os ingleses comprassem seus vinhos.
O Marquês de Pombal criou em 1756 a Cia
Geral de Agricultura e Vinhas do Alto Douro. Esta companhia que passou a ter o
monopólio da comercialização do vinho, tinha também o objetivo de equilibrar a
produção e assegurar a qualidade e o preço do produto.
Dos 400 estabelecimentos que
comercializavam vinho no Porto, foram fechados 305 e somente autorizados o
funcionamento de 95. Em 1757 os taberneiros fizeram então, uma revolta. O Marquês
de Pombal classificou esta revolta como crime de lesa-majestade, condenando 375
homens, 50 mulheres e 17 jovens. Destas pessoas, 26 foram enforcadas e
esquartejadas, 59 exiladas e o restante condenadas ao açoite, galés, prisão,
desterro e confisco dos bens.
Um dos artigos, da criação da Cia, dizia
que todo excedente de vinhos que a Inglaterra não adquirisse, deveria ser
comprada pelo Brasil.
A Cia abriu estradas, estimulou o oficio de
Tanoaria (construção de balseiros -toneis grandes), criou uma escola de
contabilidade, e outra escola de formação de pilotos de navegação.
Todo um sistema de infraestrutura foi
criado, sendo que a obra mais importante foi a desobstrução do rio Douro, onde
existiam formações rochosas que comprometiam a navegação.
Nesta época foi feita a demarcação da
região, resultando na primeira área demarcada no mundo do vinho.
Esta fase foi até 1777, quando Pombal foi
demitido e todos partidários mandados para o exílio, mas a Cia não morreu.
Em 1807 Dom João fugiu para o Brasil,
concedendo à Cia, o privilégio exclusivo da venda de vinho do Porto
engarrafado.
Como a coroa portuguesa se estabeleceu no
Rio de Janeiro, a capital do Brasil teve que, rapidamente, incorporar os
hábitos trazidos de Portugal, dos cortesãos, nas artes de receber, vestir,
comer e beber. Nesta época o bacalhau foi introduzido na culinária brasileira.
No período de 1836/37, uma forte crise comercial
abalou a Inglaterra, provocando um declínio na importação e exportação do vinho
do Porto.
O vinho do Porto ainda foi afetado em 1845
pela gomose (mal negro) e em 1863 pela filoxera, provocando uma miséria total
na região. A solução para estes males veio com a enxertia da cepas do Douro em
”cavalos” americanos.
Com a crise, muitos proprietário de terras
faliram e tiveram que vendê-las a outros
donos. Os novos donos investiram na
região e aperfeiçoaram procedimentos, melhorando a qualidade do vinho. Desta
forma o Douro voltou a produzir vinhos de qualidade internacional.
Em 1863 foi introduzido o rótulo nas
garrafas, que antes eram identificadas com marcas em relevo, no próprio vidro.
Em 1897 foi construída a ferrovia que ia do
Porto até o Pinhão, contribuindo para o progresso da região. Na estação do
Pinhão, onde estive, foram instalados belos painéis de azulejo que mostravam 24
cenas da paisagem e da vindima no Douro.
O ano de 1930 trouxe uma forte
transformação político-social para Portugal, com Ascenção ao poder de Salazar.
Duas gerações suportaram seus mandos e desmandos
até 1968.
Em 1932, o ministro da agricultura cria a
Federação Sindical dos Viticultores da Região do Douro, com a função de
disciplinar e proteger a produção do vinho.
A Casa do Douro atualizou o cadastro de
produtores e distribuiu o benefício de definir a quantidade que cada produtor
poderia fazer, além de socorrer financeiramente os produtores.
O mesmo ministro criou em 1933, o Instituto
do Vinho do Porto (IVP) e o Grêmio de Exportadores do vinho do Porto,
completando o tripé que mantem vivo o néctar do Douro.
O IVP, entre suas funções, criou a lei do
Terço, que obriga os exportadores de vinho a manter uma pipa em estoque, para
cada duas vendidas.
Desta forma, a produção e comercialização
do Vinho do Porto é conduzida até os dias de hoje.
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