A Academia de Vinhos de Portugal e a Wines of Portugal promoveu em 2015 uma palestra sobre a importante região vinícola do Dão.
A zona do Dão situa-se na região da Beira Alta, no centro Norte de Portugal. As condições geográficas são excelentes para a produção de vinhos. As serras do Caramulo, Montemuro, Buçaco e Estrela protegem as vinhas da influência de ventos. A região é extremamente montanhosa, contudo a altitude na zona sul é menos elevada. Os 20.000 hectares de vinhas situam-se maioritariamente entre os 400 e 700 metros de altitude e desenvolvem-se em solos xistosos (na zona sul da região) ou graníticos de pouca profundidade. O clima no Dão sofre simultaneamente a influência do Atlântico e do Interior, por isso os Invernos são frios e chuvosos, enquanto os Verões são quentes e secos.
Em 1908, a área de produção de vinho do Dão foi delimitada, tornando-se a primeira em vinhos tranquilos. Enquanto o Porto foi a primeira região em vinhos generosos.
No principio, os viticultores faziam o seu vinho e o vendiam a granel. Nos anos 60 do século passado, é que se dá o advento das adegas cooperativas.Tantos os tintos, como os brancos (principalmente o Encruzado) ganham muito com a idade – estágio em garrafa. Os branco são muito minerais e de acidez bem equilibrada.
O Dão é uma região com muitos produtores, onde cada um detém pequenas propriedades. Durante décadas, as uvas eram entregues às adegas cooperativas e encarregadas da produção do vinho. O vinho era posteriormente vendido em partes a grande e médias empresas, que o engarrafavam e vendiam com as suas marcas. A região sofreu muito com estas cooperativas.
Com a entrada de Portugal na CEE (1986) houve necessidade de alterar o sistema de produção e comercialização dos vinhos do Dão. Grande parte das empresas de fora da região que adquiriam vinho das adegas cooperativas locais iniciou as suas explorações na região e comprou terras para cultivo de vinha. Por outro lado, as cooperativas iniciaram um processo de modernização das adegas e começaram a comercializar marcas próprias, enquanto pequenos produtores da região decidiram começar a produzir os seus vinhos. As vinhas passaram também por um processo de reestruturação com a aplicação de novas técnicas vinícolas e escolha de castas apropriadas à região.
As vinhas da região contam com grande diversidade de castas, entre as quais as tintas: Touriga Nacional, Alfrocheiro, Jaen e Tinta Roriz e as brancas: Encruzado, Bical, Cercial, Malvasia Fina e Verdelho. A uva Baga se dá bem na região.
Os vinhos brancos são bastantes aromáticos, frutados e equilibrados. Os tintos, por sua vez, são bem encorpados, aromáticos e podem ganhar bastante complexidade após envelhecimento em garrafa.
A Comissão Vinícola Vitivinícola Regional (CVR) é a entidade que representa os interesses dos agentes econômicos envolvidos na produção e comercialização dos vinhos (ou outros produtos vínicos) que possuem a Denominação de Origem Controlada (DOC) Dão. Os produtores enviam seus vinhos, para conseguir a certificação DOC.
Estes são os dizeres da CRV: No berço da Touriga Nacional nascem os vinhos mais elegantes. Qualidade, personalidade, diferença, elegância, frescura e suavidade. O Dão é tudo isto e muito mais. Descobrir os seus vinhos é entrar num mundo novo de aromas e sabores que cativam e seduzem, e cedo se tornam inconfundíveis e inesquecíveis.
A CRV do Dão é a entidade promotora da Rota do Vinhos do Dão, tendo sob sua responsabilidade o lançamento e a operacionalização deste projeto, que se assume voltado para os fundadores e para os que posteriormente venham aderir. A Rota dos Vinhos do Dão é mais um veículo de promoção da Região Demarcada e dos Vinhos do Dão. A sede da Rota dos Vinhos do Dão, situa-se no Solar do Vinho do Dão em Viseu, num espaço designado Welcome Center, sendo a sua gestão da responsabilidade da CVR do Dão. Este espaço dispõe de duas Salas de Provas de Vinhos, de uma Mediateca e de uma Sala de Exposições. No Welcome Center realizam-se, de terça à sábado, provas de vinhos dos produtores destinadas a visitantes individuais ou em grupo. Para além da atividade regular diária de provas de vinhos, o Welcome Center oferece uma programação de eventos vínicos, tanto como o lançamento de vinhos dos produtores, formações, workshops, provas temáticas, entre outros. Os visitantes podem adquirir os vinhos em prova e outros que se encontrem em exposição e para venda.
Depois da explanação, passamos a degustar vinhos brancos da região:
Quinta da Ponte da Pedrinha 2012, da cepa Encruzado. O vinho estava bem amarelado, parecendo meio morto. A prova foi prejudicada.
Encruzado Quinta dos Roques 2013, com 13,5% de álcool. O vinho estava muito bom, com bela acidez, frescor e persistência. Ele é importado pela Decanter.
Passamos então aos tintos varietais:
Fonte do Ouro 2011, Touriga Nacional, com 13,5% de álcool. Um vinho equilibrado e complexo, com bons taninos.
Quinta da Lorna Touriga Nacional, com acidez marcante, importado pela Adega Alentejana.
Julia Kemper Touriga Nacional 2010, um belo vinho, com muita elegância e frescor.
Serviram também os vinhos de corte, ou lote:
Pedra da Cancela 2010, com 13,5 % de álcool. As cepas são: Touriga Nacional (40%), Tinta Roriz (30%), Afocheiro (20%) e Jaen. Apresentou muita fruta. O vinho é bem estruturado, complexo, equilibrado e persistente. Dos tintos, foi o que mais gostei.
Pedra da Cancela Reserva 2010, com 13,5 % de álcool. As cepas são: Touriga Nacional, Baga, Bastardo. Este vinho é bem mais encorpado que o anterior.
Visitei o Dão em 2009, quando tive o prazer de estar com Pedro Figueiredo, produtor dos vinhos da Quinta da Falorca. Particularmente prefiro alguns vinhos deste produtor, aos apresentados neste evento.
A palestra foi rápida, mas pudemos conhecer um pouco mais a respeito dos vinhos desta importante região vinícola. Para completar o assunto, contei com o apoio de Pedro Figueiredo, da Quinta do Vale das Escadinhas (ou Falorca), cujo trabalho e vinhos, admiro muito!