terça-feira, 4 de agosto de 2015

Regiões Vinícolas de Portugal

Participei em maio de 2015 de um curso-fase III de vinhos de Portugal, promovido pela Academia de Vinhos de Portugal e a Wines of Portugal.

No ano passado participei do mesmo curso, mas da fase anterior, II, que tratava das castas dos vinhos portugueses.

Na fase III, o assunto era sobre os terroirs.

Portugal é o país que mais tem investido no mercado brasileiro em termos de divulgação. Com isto, o Brasil se tornou seu segundo mercado, do mundo de vinhos portugueses, depois de Angola.

Este investimento tem sido feito em feiras, palestras e curso de formação, a fim de divulgar seus vinhos, que tem características únicas.

A palestra da fase III foi ministrada por Alexandre Lalas, que é repórter de vinhos.

Vou procurar fazer um resumo do que aprendemos:

Inicialmente ele falou sobre as castas, como introdução, reforçando o lema dos vinhos de Portugal: Vinhos únicos, por utilizar, na sua maioria, cepas portuguesas.

Em 2015 a Wine Expectator reconheceu a qualidade dos vinhos portugueses e deu a eles o primeiro, terceiro e quarto lugar, entre os vinhos do mundo.

Eles foram: 1) Dows 2008 Porto vintage, 3) Chrysea 2011 Douro DOC e 4) Quinta do Vale do Meão 2011

Portugal tem mais de 250 castas catalogadas e é o país que mais utilizas castas autóctones. Já a Itália conta com mais ou menos 500 castas, mas não utiliza todas elas. Na Itália muitas castas nativas foram substituídas por castas internacionais.

Em Portugal, regiões mais novas, como algumas áreas do Alentejo, usam também as castas internacionais.

Os produtores portugueses sabem muito bem a técnica de assemblage, ou lote, como lá é conhecida. Eles têm consciência de que, muitas castas portuguesas não dariam um bom vinho, sozinhas, portanto eles as misturam entre elas, para que o vinho ganhe a qualidade de cada uma das castas.

Em Portugal, no passado houve uma tentativa de se investir numa cepa como emblemática e, para isto, escolheram a Touriga Nacional. Chegaram à conclusão de que seria perigoso resumir os vinhos portugueses em apenas uma casta e então, desistiram.

Apesar de pequeno, Portugal tem um terroir bastante variado.

O terroir pode ser simplificado na definição do conjunto: clima, solo, meio ambiente, o homem e a uva.

Portugal sofre influências do clima úmido e das temperaturas mais amenas que vem do Atlântico.
Sofre também influências do clima que vem do continente, mais seco e quente.
A região do Algarve sofre influência do clima Mediterrâneo, com invernos menos frios e verões quentes e secos.

Portugal produz vinhos de terroir, com características distintas. Graças à incidência pequena de pragas, usa-se pouca química no cultivo da uva. Desta forma, os vinhos são naturalmente mais biodinâmicos. Mesmo biodinâmicos, poucos produtores tem certificados, pois o processo de certificação é muito caro.

Outra particularidade da produção de alguns vinhos portugueses é o uso da cofermentação (todas castas juntas) e o uso do Lagar para vinhos mais finos.

Nota-se também, em Portugal, um movimento de retorno da ânfora.

Características das regiões vinícolas:




Arinto


-Vinhos Verdes, que vem da maior região vinícola de Portugal, onde predominam os tons verdes da vegetação, devido à alta umidade. As cepas mais comuns nesta região são: Alvarinho, Trajadura, Arinto Pedernã e Roupeiro. Elas dão vinhos mais leves, com frescor, mineralidade, acidez elevada e mediamente alcoólicos. Os vinhos combinam com peixes e frutos do mar (lampreia). O clima da região é influenciado pela brisa marítima do Atlântico, que resulta numa temperatura amena todo o ano. A Denominação de Origem divide-se em nove sub-regiões: Monção, Lima, Basto, Cávado, Ave, Amarante, Baião, Sousa e Paiva.

Baga


- Bairrada: a principal cepa usada nesta região é a Baga, além de: Bical, Fernão Pires (Maria Gomes), Baga e Touriga Nacional. O vinho da Bairrada tem um corpo médio, é muito gastronômico e leve na boca, além de ter muito tanino e acidez.
Os vinhos feitos a partir da casta Baga são carregados de cor e ricos em ácidos, contudo são bem equilibrados e têm elevada longevidade. Recentemente, foi permitido na região, plantar castas internacionais, como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot e Pinot Noir, que partilham os terrenos com outras castas nacionais, como a Touriga Nacional ou a Tinta Roriz.  Os brancos da região são delicados e aromáticos, enquanto os espumantes são muito utilizados como aperitivos ou para acompanhar a cozinha local.

- Lisboa (antigamente Estremadura), tem um clima temperado devido à influência do Atlântico. As cepas ali principais são: Arinto, Bastardo e Trincadeira. A região produz vinhos brancos frescos e firmes (Arinto) e tintos frutados. Nesta região são usadas castas internacionais. A Região é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próxima de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

Castelão


- Península de Setúbal: é rodeada pelo oceano Atlântico e pelos rios Tejo e Sado. Neta região é muito usada a cepa Castelão, Alfrocheiro (ou Trincadeira) além de muitas cepas internacionais. As castas brancas dominantes são a Fernão Pires, a Arinto e naturalmente, a Moscatel de Setúbal.  A Moscatel de Setubal é utilizada em vinhos brancos e também nos vinhos generosos da Denominação de Origem de Setúbal.  Existe também a Moscatel Roxa (Moscatel de Alexandria), que faz vinhos generosos.

O clima da região é mediterrâneo temperado com Verões quentes e secos e Invernos amenos e chuvosos. A umidade relativa média anual situa-se entre os 75% a 80%, o que reflete a proximidade do mar. A Península de Setúbal compreende duas Denominações de Origem (Palmela e Setúbal) e a designação de vinhos regionais Península de Setúbal.
Uma característica dos vinhos é ter aromas florais nos brancos e sabores suaves de especiarias e frutos silvestres, nos tintos.

-Madeira, ilha apelidada como “pérola do Atlântico”, produz o vinho generoso “Madeira”, que é um vinho fortificado (adição de aguardente vínico), como o Porto. O vinho Madeira tem uma particularidade, na sua produção, ele estagia num canteiro de estufagem, onde fica à temperatura de 50 graus por mais de 90 dias. Este vinho possui uma longevidade fora do comum, assim como aromas complexos e um sabor distintivo que ganhou notoriedade mundial. O vinho contém muito açúcar e acidez. As cepas usadas para seu feitio são: Tinta Negra (80%), Serial, vermelho, Boal e Malvasia.

-Açores, Arquipélago formado por 9 ilhas, onde são produzidos vinhos na região do Pico e Graciosa. A terceira ilha produz um vinho branco, leve e seco. Lá são utilizadas as castas: Verdelho, Arinto, Torrontez, Boal e Fernão Pires. Os vinhos são muito equilibrados e com forte mineralidade.

Touriga Nacional


- Douro e Porto. O Douro é uma das regiões mais selvagens e agrestes do território nacional, cortado pelo vale do rio Douro. Região de solos xistosos.  Se há um vinho que caracteriza imediatamente a região do Douro é o vinho do Porto. Este, embaixador dos vinhos portugueses, nasce em terras pobres e encostas escarpadas, banhadas pelo rio Douro. Além do Porto, esta região é cada vez mais reconhecida pelos excelentes vinhos tintos e brancos que produz.  O Douro foi a primeira região demarcada no mundo, 1756. Nesta região são usadas mais de 50 castas, sendo as principais castas tintas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Tinta Cão e Souzão. Castas que  produzem vinhos tintos escuros, intensos, robustos, musculosos com notas de esteva (arbusto da região) e boa acidez. Quanto às cepas brancas, as principais são: Gouveio, Malvasia Fina, Moscatel e Rabigato. A região está subdividida nas três sub-regiões do Douro: Baixo Corgo a oeste, Cima Corgo no centro e Douro Superior a leste. Em cada sub-região há ligeiras alterações climáticas, devido à altitude e à exposição solar nos vales profundos. De um modo geral, o clima é bastante seco e os conjuntos montanhosos oferecem às vinhas, proteção contra os ventos. No Baixo Corgo o ar é mais úmido e fresco, pois recebe ainda alguma influência atlântica. Além disso, a pluviosidade é mais elevada, ajudando a fertilizar os solos e a aumentar a produção das castas. No Cima Corgo, o clima é mediterrâneo e no Douro Superior chega mesmo a ser desértico (as temperaturas chegam aos 50ºC no Verão). O melhor vinho do Porto é feito nas encostas mais áridas e próximas do rio, enquanto os vinhos de mesa são produzidos nas encostas mais frescas. A região do Baixo Corgo, outrora considerada a melhor região para a produção do vinho do Porto, revela melhores condições para a produção de vinho de mesa. Na zona do Pinhão (Cima Corgo) os bagos de uva atingem maior concentração de açúcar, nesta área considerada perfeita para a produção de vintages. Os vinhos brancos, espumantes e o generoso Moscatel provêm das regiões mais altas de Cima Corgo e Douro Superior.

Encruzado


- Dão: região rodeada de serras que a protege, dos ventos. Produz vinhos com elevada capacidade de envelhecimento. As cepas mais utilizadas são: Encruzado, Touriga Nacional, Alfocheiro, Tinta Roriz e Jaen. Os vinhos tem bom aroma e sabor, complexos e delicados, com muita elegância e potencial de envelhecimento. Nesta região faz muito frio no inverno, sendo comparada à Borgonha. (Vou tratar melhor sobre o vinho desta região num artigo à parte).

Tinta Roriz


- Beira Interior: As regiões da Beira Interior, Távora-Varosa e Lafões situam-se no interior do país e dispersam-se entre a zona da Beira Baixa e da Beira Alta, junto à fronteira com a Espanha. As suas denominações, uma mais históricas que outras, produzem vinhos muito distintos, frutos dos diversos climas existentes em cada sub-região. Os vinhos são Minerais, com frutas e aromas de frutas, estruturados, com frescor e equilíbrio. Por influência das montanhas e da altitude, os Verões são secos e quentes, por outro lado, os Invernos são muito frios e com neve. As adegas cooperativas produzem quase todo o vinho da região, apesar de, cada vez mais, surgirem no mercado, vinhos de pequenos e médios produtores. As castas tintas mais cultivadas na Beira são: Tinta Roriz, Bastardo, Marufo, Rufete e Touriga Nacional. As castas brancas com maior expressão na região são a Síria, Malvasia Fina, Arinto e Rabo de Ovelha. A região reúne boas condições para a produção de brancos frescos e aromáticos e tintos frutados e encorpados. Lá existem 3 sub-regiões: Castelo Rodrigo, Pinhel e Cova da Beira.

Fernão Pires


- Tejo: apresenta uma diversidade de solos e climas aliados a explorações vitivinícolas de grande dimensão, com baixos custos de produção. Esta região fértil, outrora com elevadas produções que abasteciam o mercado interno e as colônias da África, produz vinhos brancos e tintos de qualidade a um preço extremamente competitivo. As cepas mais usadas são: Fernão Pires, Castelão, Trincadeira, além de castas internacionais. Os vinhos são modernos, equilibrados, com aromas frutados. Sub-regiões: Tomar, Santarém, Chamusca, Cartaxo, Almeirim e Coruche.

Trincadeira


- Alentejo é uma das maiores regiões vitivinícolas de Portugal, onde a vista se perde em extensas planícies que apenas são interrompidas por pequenos montes. Esta região quente e seca beneficiou-se de inúmeros investimentos no setor vitivinícola, que se traduziu na produção de alguns dos melhores vinhos portugueses e consequentemente, no reconhecimento internacional. Os vinhos brancos do Alentejo tem aromas intensos, originais, frutados, complexos de boa acidez, com estrutura e harmonia. Os tintos, por sua vez, são encorpados, com cores carregadas, aromas de fruto maduro, de estrutura firme, equilibrada e grande persistência.
As principais cepas são: Aragonês, Trincadeira, Alicante Bouchet, Antão Vaz e Arinto. Nesta região a Sirah se sai bem. Ela está dividida em 8 sub-regiões: Reguengos, Borba, Redondo, Vidigueira, Évora, Granja-Amareleja, Portalegre e Moura. Nos anos 50, foi criada a primeira adega cooperativa da região, com o objetivo de controlar a produção vinícola. No entanto, foi apenas nos anos 80 que o Alentejo se submeteu à grande revolução na produção vitivinícola.  O Alentejo tem uma enorme capacidade de organização e os produtores alentejanos constituíram inúmeras associações, revitalizando as cooperativas e encorajando os produtores privados. Assim, o setor vitivinícola ganhou outra relevância, o que justificou a demarcação oficial da região em 1988.


- Algarve, muitas vezes considerada como o paraíso turístico de Portugal, é uma região onde a área de vinha decresceu nos últimos anos. A indústria turística ocupou grande parte da área dos terrenos agrícolas e o vinho algarvio esteve próximo da extinção. Hoje, há de novo interesse vitivinícola na região e investe-se no desenvolvimento deste setor.  O Algarve situa-se no sul de Portugal. É uma região com um clima muito específico: está próximo do mar e também sofre a influência da montanha. As serras são muito importantes na agricultura algarvia, pois protegem as explorações de ventos provenientes do norte. Deste modo, o clima é quente, seco, com reduzidas amplitudes térmicas e com uma média de 3000 horas de sol por ano.   A região do Algarve é constituída por 4 Denominações de Origem: Lagos, Lagoa, Portimão e Tavira. A maior parte do vinho produzido insere-se na designação “vinho regional do Algarve”. As castas tintas tradicionais da região são a Castelão e a Negra Mole, enquanto que as brancas são: Arinto e a Síria. A casta Syrah foi introduzida e demonstrou total adaptabilidade ao clima da região, por isso tem sido muito plantada pelos viticultores. Os vinhos algarvios são suaves e bastante frutados.

Junto com a aula, houve também uma degustação de vinhos de cada região, o que  complementou a nossa instrução.

Este curso, bem como o nível II foram muito interessantes para ampliar nosso conhecimento sobre os vinhos portugueses e ajudou a formar verdadeiros apreciadores e embaixadores dos vinhos portugueses, aqui no Brasil.

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