A vontade de conhecer a Úmbria veio de uma feira de produtos da Úmbria, que participei em São Paulo. Era uma feira tanto de vinhos como de alimentos e ela me abriu o horizonte para aquela fantástica região.
Soube então que a Úmbria contava com a maior densidade de florestas da Itália, além da maior produção per capita do país.
Nos hospedamos em Monteluco, por sugestão de meu amigo Basile. Monteluco é uma bela montanha ao lado de Spoleto.
Ficamos no Albergo Ferretti (http://www.albergoferretti.com/ita/), um lugar simples e bacana, cujo proprietário Massimo nos deu uma calorosa e atenciosa recepção.
Além de dono do Albergo, ele era o cozinheiro e recepcionista. Seu divertimento consiste em reconstituir motos antigas.
Como o Albergo estava vazio, Massimo sentava-se à mesa conosco para degustar vinho e contar-nos suas histórias.
O local tinha as paredes cobertas por cartazes de peças de teatro,cartazes dos artistas e amigos que passaram por lá.
A subida para Monteluco era sinuosa e estreita, transformando alguns quilômetros a percorrer, num caminho infinito.
Massimo, apaixonado pela região nos mostrou o bosque sagrado de ”leccio” (madeira da região), que rodeia a sua propriedade. Um bosque com árvores milenares que já foram até motivo de pesquisa. Dizem que São Francisco de Assis lá conversava com os animais.
No bosque existe uma pedra onde, no século III AC foi colocado o raro documento denominado ”Lex Spoletina”, onde estavam escritas as leis de utilização e preservação do bosque. Hoje este documento fica no museu cívico de Spoleto. Uma das traduções da inscrição é:
Ninguem pode violar esta caverna, exportar ou levar o que pertence a ela. Ninguem pode cortar (madeira) exceto para as necessidades anuais do serviço divino; neste dia, poderá ser cortado sem malícia, para as necessidades anuais do serviço divino. Se alguém violar (estas regras), ele deverá oferecer um ”piacolum” (oferenda de purificação) de um ”ox” a Júpiter; se alguém violar com malícia, um sacrifício expiatório deve ser oferecido a Júpiter, e 300 ”asses” (moeda da época) deverá ser fornecido em troca. O magistrado será responsável pela extração da oferenda.
Massimo nos mostrou também a capela de Santa Caterina e o exterior de um Santuário franciscano, onde os padres ainda hoje, vivem reclusos.
Conta-se que, no século V, um grupo de monges, fundou uma colônia em Monteluco, habitando grutas e vetando a presença ali de mulheres. Construiram a igreja de Madre San Juliano,que depois passaram para os beneditinos que a abandonaram no século XVI.
Em 1218, São Francisco lá ficou por um breve período, fundando um convento primitivo, que deu origem ao de hoje.
Massimo nos mostrou também um ponto onde existe um mirante, de onde se tem um panorama do vale e da cidade de Spoleto.Um lugar especial!
Descemos para conhecer a cidade de Spoleto, com sua simplicidade, que no entanto conta com sofisticadas lojas, inclusive de azeites, vinhos e embutidos. Dizem que o azeite da Úmbria é o melhor da Itália, o que pude comprovar.
Durante o passeio pela cidade antiga fomos surpreendidos, ao sair de um beco, com a divina catedral de Santa Maria Assunta, ricamente decorada, para uma cidade tão pequena, com pinturas de Fra Fillipo Lippi.
Encontrei na cidade uma sobremesa que já provara em outras viagens à Itália, que se chama ”baba al rum”. Ela parece um pão-de-ló embebido no rum. Irresistível e divino!
Passamos pela casa romana, do século I DC, que é um importante testemunho arqueológico da presença romana. Vimos também o teatro romano.
Comprei um vinho Rosso de Monteluco (€8), para provar no jantar com Massimo, bem como uma lata de azeite.
No restaurante do Albergo, a lareira já estava acesa, com uma grelha onde Massimo colocou o pão para assar e fazer a bruschetta, servida com ”prosciuto crudo” como entrada para o jantar.
Como prato principal tivemos: Stragozzi al funghi porcini freschi, acompanhado do ótimo Rosso de Montefalco ”Aquata” 2007, que combinou muito bem com o prato.
No dia seguinte fizemos a rota do ”Val del Nero” que nos levou para a cidade de Norcia, indicada pelo meu amigo Edu Simões.
No jantar do Albergo, Massimo preparou uma linda salada decorada com flores feitas de cenoura, funghi porcini, folhas tomate e uvas.
Não satisfeito com o nosso frugal apetite, Massimo nos preparou um gnochi típico da Umbria. Ele era grande com recheio verde de ricota com creme de trufas.
Emocionados com a gentil recepção e o lugar tão especial, nos despedimos e, partimos em direção a Orvieto.
Bela descrição, Beto. Fiquei com saudades (e com fome!).
ResponderExcluirAbraço.