Como eu estava na região sudoeste da
França, resolvi conhecer a cidade de Bordeaux e algumas vinícolas de primeira
linha da região. Escolhi inicialmente o Chateau Haut Brion, que fica na região
de Pessac-Léognan, praticamente dentro da cidade de Bordeaux.
O Chateau é de propriedade da família
americana Dillon, desde 1935 e se estabeleceu na região no século XVI. Era dele
o único vinho, fora da região de Medoc, classificado como premier cru em 1855. O
vinho do Chateau também foi o primeiro de Bordeaux a ser exportado para a
Inglaterra.
O Chateau adotou sempre as tecnologias de
vanguarda. Foi o primeiro que introduziu, na região, as cubas de aço inox para a
produção de vinhos.
A família Clarence Dillon possui ainda,
mais três propriedades: La Mission Haut-Brion, próximo à Haut brion,
Clarendelle, que fica na região de Mombasillac e Chateau Quintus em St Emilion.
O vinhedo do Chateau Haut Brion tem 45 ha e
suas uvas são as primeiras a amadurecerem na região. Com a generosa ajuda da
Merlot, o vinho fica menos austero que os produzidos em Medoc.
A proporção das cepas plantadas no Chateau
são: 45% de Cabernet Sauvignon, 15% Cabernet Franc e 40% Merlot. A cepa
Cabernet Sauvignon é a mais resistente às intempéries, enquanto a Merlot é mais
afetada pela geada da primavera.
O Chateau produz ainda um vinho branco
seco, generoso e rico, em quantidades mínimas.
A produção de um Grand cru ali vem da
convergência dos fatores humanos e da natureza. É o resultado de um casamento,
em que, graças à virtual paciência do empirismo, nada é predominante ou
virtual, mas tudo é essencial .
A história da região de Bordeaux data do
terceiro século A.C., quando uma vila foi fundada por tribos de celtas.
Durante o domínio romano, no século I,
foram autorizadas plantações de uvas na região.
O nome Haut-Brion deriva do termo celta
“briga”, mas também se refere a uma montanha fortificada.
Os primeiros registros de vinhos do Château
foram em 1660.
A visita:
Praticamente nem saímos de Bordeaux e já chegamos
no Chateau Haut Brion, uma imponente propriedade, cuidada com esmero.
Fomos recebidos pela simpática Sra. Turid
Hoel Alcaras, responsável pelas relações públicas e recepções, que deu uma ótima
explicação sobre a propriedade, inicialmente com base em uma maquete.
Começamos a visita pela área onde ficam as
cubas de aço inox. Eu já havia notado uma particularidade nas cubas, que
apareciam em corte na maquete. Existia, dentro das cubas, uma chapa inclinada
com furos.
Turid me explicou que quando as uvas são
colocadas dentro da cuba, o suco passa pelos furos da chapa, ficando separado
do restante do mosto. O suco é retirado por baixo e o restante do material através da porta da
cuba.
As primeiras uvas a serem colhidas e
selecionadas manualmente são as Merlot. Elas são selecionadas, separadas dos
engastes e sementes e encaminhadas para as prensas. Em seguida são colocadas
nas cubas de aço inox.
A seleção das uvas é feita ainda no campo,
sendo descartada toda uva que tiver algum defeito.
As grandes safras podem ser reconhecidas
quando ocorre um pequeno sobre amadurecimento da uva e sua pele fica mais fina.
Passado pelo processo de desengaste, as
uvas vão para a prensa e depois para as cubas de inox, com controle de
temperatura.
Dentro da cuba, a fermentação ocorre livre
do oxigênio, pois é usado gás inerte, azoto. Durante o processo não são
adicionadas leveduras, pois elas já estão presentes na casca da uva.
Concluída a fermentação, quando o açúcar se
transforma em álcool, o vinho é colocado em barricas de carvalho, para seu
envelhecimento.
Os vinhos ficam em barricas novas pelo
período de 20 meses.
Durante este período os sedimentos ficam no
fundo do barril, cujo vinho é analisado semanalmente.
As salas, de armazenamento dos barris e dos
vinhos em garrafa, tem controle de temperatura, para garantir um bom
envelhecimento da bebida.
Finalmente o vinho é retirado, sem os
sedimentos e engarrafado, quando se inicia o processo de envelhecimento na
garrafa.
O Instituto da Universidade de Enologia de
Bordeaux classifica os vinhos levando em conta: sabor, acidez, amargor,
adstringência e sal.
Os vinhos mais simples, provenientes das
parreiras mais novas, são os primeiros a serem produzidos.
Visitamos o laboratório da Haut Brion, bem
aparelhado, onde o químico do Chateau trabalha e aproveitamos para sanar nossas
dúvidas.
Interessante foi conhecer a área de
tonelaria. O especialista estava lá montando com maestria, alguns barris.
Apesar de tímido, mostrou-nos suas
habilidades naquela arte.
Partimos em seguida,para a área de
degustação, que fica em cima de uma linda capela.
Os vinhos provados, da safra 2008 foram:
Château Haut-Brion Blanc: fermentado em
cascos de madeira, com maturação de 9 a 12 meses, das cepas: Semillion e
Sauvignon Blanc na mesma proporção, com um toque de Sauvignon Gris. Rico em
aromas cítricos, revelou ainda aromas de frutas, como pêssego e maçã. Agradável
no palato, com boa estrutura e acidez. Delicioso.
La Chapelle de la Mission Haut-Brion:
produzido com as cepas: Merlot (42,7%), Cabernet Franc (10,3%) e Cabernet
Sauvignon. Fica por 18 a 22 meses em barricas de carvalho francês, 80% novas.
Château La Mission Haut-Brion: produzido
com as cepas: Merlot (42,7%), Cabernet Franc (10,3%) e Cabernet Sauvignon. Fica
por 18 a 22 meses em barricas de carvalho francês, 80% novas. Os aromas eram de
frutas vermelhas, como cerejas negras. Na boca ele é sedoso, macio, com taninos
delicados e persistentes.
Le Clarence de Haut-Brion, segundo vinho da
casa, que recebe os mesmos cuidados do primeiro vinho da casa: Ele fica de 18 a
22 meses em barrica, sendo 20 a 25% de primeiro uso. Os taninos são bons e
persistentes, aromas de cereja negra e terra, com ervas tostadas. É um vinho
maravilhoso, estando mais pronto que o top da casa.
Chateau Haut-Brion Grand Cru Classé: das
cepas: Merlot (41%), Cabernet Sauvignon (50%) e Cabernet Franc. Os aromas se
mostraram de grande complexidade tais como: aromas de fumo, chocolate, tostado
e cedro. Na boca os taninos são sedosos, com excelente persistência. Na boca o
vinho é seco, com taninos finíssimos, muito persistentes e elegantes. Este
vinho fica por um período de 18 a 22 meses em barrica, sendo 80% de primeiro
uso. Este foi o ápice da degustação. Um vinho maravilhoso, aliás uma
experiência imperdível!
Perguntamos à nossa cicerone se podíamos
comprar algum vinho e ela nos falou que toda a produção era vendida a
“negociants” que, por sua vez, revendiam às lojas. Fomos então a Bordeaux, a
uma loja por ela indicada, quando descobrimos que lá, o top da vinícola custava
700Euros. Desisti então da compra.
A visita, que durou meio dia, foi
maravilhosa, graças à nossa simpática e gentil anfitriã!
Uma experiência única!
Voilá!
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