segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Visita ao Château Haut Brion


Como eu estava na região sudoeste da França, resolvi conhecer a cidade de Bordeaux e algumas vinícolas de primeira linha da região. Escolhi inicialmente o Chateau Haut Brion, que fica na região de Pessac-Léognan, praticamente dentro da cidade de Bordeaux.


O Chateau é de propriedade da família americana Dillon, desde 1935 e se estabeleceu na região no século XVI. Era dele o único vinho, fora da região de Medoc, classificado como premier cru em 1855. O vinho do Chateau também foi o primeiro de Bordeaux a ser exportado para a Inglaterra.


O Chateau adotou sempre as tecnologias de vanguarda. Foi o primeiro que introduziu, na região, as cubas de aço inox para a produção de vinhos.


A família Clarence Dillon possui ainda, mais três propriedades: La Mission Haut-Brion, próximo à Haut brion, Clarendelle, que fica na região de Mombasillac e Chateau Quintus em St Emilion.


O vinhedo do Chateau Haut Brion tem 45 ha e suas uvas são as primeiras a amadurecerem na região. Com a generosa ajuda da Merlot, o vinho fica menos austero que os produzidos em Medoc.


A proporção das cepas plantadas no Chateau são: 45% de Cabernet Sauvignon, 15% Cabernet Franc e 40% Merlot. A cepa Cabernet Sauvignon é a mais resistente às intempéries, enquanto a Merlot é mais afetada pela geada da primavera.


O Chateau produz ainda um vinho branco seco, generoso e rico, em quantidades mínimas.


A produção de um Grand cru ali vem da convergência dos fatores humanos e da natureza. É o resultado de um casamento, em que, graças à virtual paciência do empirismo, nada é predominante ou virtual, mas tudo é essencial .


A história da região de Bordeaux data do terceiro século A.C., quando uma vila foi fundada por tribos de celtas.


Durante o domínio romano, no século I, foram autorizadas plantações de uvas na região.


O nome Haut-Brion deriva do termo celta “briga”, mas também se refere a uma montanha fortificada.


Os primeiros registros de vinhos do Château foram em 1660.



A visita:

Praticamente nem saímos de Bordeaux e já chegamos no Chateau Haut Brion, uma imponente propriedade, cuidada com esmero.


Fomos recebidos pela simpática Sra. Turid Hoel Alcaras, responsável pelas relações públicas e recepções, que deu uma ótima explicação sobre a propriedade, inicialmente com base em uma maquete.


Começamos a visita pela área onde ficam as cubas de aço inox. Eu já havia notado uma particularidade nas cubas, que apareciam em corte na maquete. Existia, dentro das cubas, uma chapa inclinada com furos.


Turid me explicou que quando as uvas são colocadas dentro da cuba, o suco passa pelos furos da chapa, ficando separado do restante do mosto. O suco é retirado por baixo e  o restante do material através da porta da cuba.


As primeiras uvas a serem colhidas e selecionadas manualmente são as Merlot. Elas são selecionadas, separadas dos engastes e sementes e encaminhadas para as prensas. Em seguida são colocadas nas cubas de aço inox.

A seleção das uvas é feita ainda no campo, sendo descartada toda uva que tiver algum defeito.

As grandes safras podem ser reconhecidas quando ocorre um pequeno sobre amadurecimento da uva e sua pele fica mais fina.

Passado pelo processo de desengaste, as uvas vão para a prensa e depois para as cubas de inox, com controle de temperatura.

Dentro da cuba, a fermentação ocorre livre do oxigênio, pois é usado gás inerte, azoto. Durante o processo não são adicionadas leveduras, pois elas já estão presentes na casca da uva.

Concluída a fermentação, quando o açúcar se transforma em álcool, o vinho é colocado em barricas de carvalho, para seu envelhecimento.

Os vinhos ficam em barricas novas pelo período de 20 meses.

Durante este período os sedimentos ficam no fundo do barril, cujo vinho é analisado semanalmente.

As salas, de armazenamento dos barris e dos vinhos em garrafa, tem controle de temperatura, para garantir um bom envelhecimento da bebida.

Finalmente o vinho é retirado, sem os sedimentos e engarrafado, quando se inicia o processo de envelhecimento na garrafa.

O Instituto da Universidade de Enologia de Bordeaux classifica os vinhos levando em conta: sabor, acidez, amargor, adstringência e sal.

Os vinhos mais simples, provenientes das parreiras mais novas, são os primeiros a serem produzidos.

Visitamos o laboratório da Haut Brion, bem aparelhado, onde o químico do Chateau trabalha e aproveitamos para sanar nossas dúvidas.

Interessante foi conhecer a área de tonelaria. O especialista estava lá montando com maestria, alguns barris. Apesar de tímido, mostrou-nos  suas habilidades naquela arte.

Partimos em seguida,para a área de degustação, que fica em cima de uma linda capela.

Os vinhos provados, da safra 2008 foram:

Château Haut-Brion Blanc: fermentado em cascos de madeira, com maturação de 9 a 12 meses, das cepas: Semillion e Sauvignon Blanc na mesma proporção, com um toque de Sauvignon Gris. Rico em aromas cítricos, revelou ainda aromas de frutas, como pêssego e maçã. Agradável no palato, com boa estrutura e acidez. Delicioso.

La Chapelle de la Mission Haut-Brion: produzido com as cepas: Merlot (42,7%), Cabernet Franc (10,3%) e Cabernet Sauvignon. Fica por 18 a 22 meses em barricas de carvalho francês, 80% novas.

Château La Mission Haut-Brion: produzido com as cepas: Merlot (42,7%), Cabernet Franc (10,3%) e Cabernet Sauvignon. Fica por 18 a 22 meses em barricas de carvalho francês, 80% novas. Os aromas eram de frutas vermelhas, como cerejas negras. Na boca ele é sedoso, macio, com taninos delicados e persistentes.

Le Clarence de Haut-Brion, segundo vinho da casa, que recebe os mesmos cuidados do primeiro vinho da casa: Ele fica de 18 a 22 meses em barrica, sendo 20 a 25% de primeiro uso. Os taninos são bons e persistentes, aromas de cereja negra e terra, com ervas tostadas. É um vinho maravilhoso, estando mais pronto que o top da casa.

Chateau Haut-Brion Grand Cru Classé: das cepas: Merlot (41%), Cabernet Sauvignon (50%) e Cabernet Franc. Os aromas se mostraram de grande complexidade tais como: aromas de fumo, chocolate, tostado e cedro. Na boca os taninos são sedosos, com excelente persistência. Na boca o vinho é seco, com taninos finíssimos, muito persistentes e elegantes. Este vinho fica por um período de 18 a 22 meses em barrica, sendo 80% de primeiro uso. Este foi o ápice da degustação. Um vinho maravilhoso, aliás uma experiência imperdível!

Perguntamos à nossa cicerone se podíamos comprar algum vinho e ela nos falou que toda a produção era vendida a “negociants” que, por sua vez, revendiam às lojas. Fomos então a Bordeaux, a uma loja por ela indicada, quando descobrimos que lá, o top da vinícola custava 700Euros. Desisti então da compra.

A visita, que durou meio dia, foi maravilhosa, graças à nossa simpática e gentil anfitriã!
Uma experiência única!
Voilá!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Miolo chega na Argentina e desbrava seu quinto terroir

Grupo brasileiro adquire a Bodega Renacer, localizada em Luján de Cuyo - Mendoza, consolidando assim, sua internacionalização em uma das pri...