sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Visita à vinícola eslovena Simcic

Faz muito tempo que tenho interesse em conhecer a Croácia. Procurei então um amigo que cuida das minhas viagens, da Checkout Turismo, para me ajudar nesta empreitada. Ele me apresentou argumentos que me convenceram a conhecer também, a Eslovênia.

Aproveitando a passagem pela Eslovênia, procurei a importadora Decanter, que traz os vinhos da Simcic Marjan para o Brasil, para agendar uma visita, numa região próxima ao Friuli italiano.

A Simcic produz vinhos renomados,que receberam a nota máxima no guia de Hugh Johnson de 2011. (http://www.youtube.com/watch?v=jv3LO_fq5w4)

A Decanter gentilmente providenciou uma visita minha à vinícola, que fica numa área rural perto da Itália.

A metade dos vinhedos da Simcic fica no Colio, Itália e o restante na Goriska Brda, Eslovenia. Os vinhedos têm entre 10 e 50 anos.

A propriedade foi comprada em 1860, por Josef Simcic, época em que iniciou a atividade vinícola.

Fomos recebidos pela esposa do proprietário, Valerija, que gentilmente nos levou a conhecer sua adega, mesmo estando com o prédio em reforma. Felizmente ela falava italiano, pois a língua eslovena é impossível de se compreender.

Valerija matou minha curiosidade em saber como era ter a vinícola e trabalhar nela na época comunista, uma vez que, metade da propriedade da Simcic ficava na Itália. Ela disse que era muito complicado, pois sempre tinha que se identificar para passar pela fronteira Itália/Eslovênia.

O lema da vinícola é: Nós cremos no nosso vinho porque acreditamos na nossa uva. Toda nossa uva vem de vinhedos próprios, que ficam no coração de Goriska Brda.

Os solos da região, em tempos pré históricos, eram banhados pelos mares, se transformando posteriormente em colinas. Os ventos e chuvas lavaram e aqueceram os solos por centenas de anos. O resultado foram solos ricos em minerais, o que contribui para a produção de vinhos únicos.

As uvas são cultivadas com métodos naturais, sem utilização de fertilizantes ou pesticidas. Desta forma as vinhas podem oferecer as melhores uvas durante a maturação.

Os vinhos são produzidos respeitando os métodos tradicionais, utilizando equipamentos modernos.

Marjan, dono da vinícola, é um apaixonado pela cepa Rebula, que, segundo a Decanter Magazine é a grande uva branca da região Brda.

Os vinhos são produzidos em 3 grupos: Clássicos, Selekcija, Opoka (da terra, da raiz).

Os vinhos, denominados clássicos, são fermentados em cubas de inox. Eles ficam repousando por um período de 8 meses sur lie, o que faz o vinho perder um pouco de frescor e de aromas da uva, mas ganhar em complexidade e elegância.

Os vinhos clássicos provados nesta visita foram: Rebula (Ribola Gialla, na Itália), ou Ribolla, da cepa Ribolla, de vinhedos de 50 anos; Sivi Pinot, da cepa Pinot Grigio e o Sauvognonese, da cepa Sauvignonasse (Furlanski Tokaj).

Estes vinhos apresentaram um frescor, boa mineralidade e acidez, além de um belo corpo e boa persistência. 

Passamos então pelos vinhos do grupo Selekcija, que são vinhos que estagiam em barricas de carvalho:

Teodor Belo, branco, das cepas: Ribolla (60%), Sangiovese (20%) e Pinot Grigio. A colheita manual é feita separadamente e a vinificação também. A Ribola fica 15 dias em fermentação, a Sangiovese 5 dias e a Pinot 2 dias. As duas primeiras cepas maturam por 22 meses, em barrica de 500l. A Pinot Grigio usa uma barrica de 225l.

Teodor Rdece (Rosso Red), das cepas: Merlot (85%) e Cabernet Sauvignon. A colheita é feita na época de cada uva. A maceração da Merlot, que é colhida mais cedo é feita em tanques de inox por um período de 28 dias. A Merlot fica de 15 a 20 dias em tanque de inox. A maturação leva um período de 40 meses em barrica de carvalho francês.

Pinot Noir, que tem um processo de maceração de 15 dias e maturação em barrica de carvalho francês por 22 meses.

Este grupo de vinhos já apresentou uma elegância maior, com delicioso bouquet e harmonia. Boa persistência e taninos delicados, no caso do tinto.

Finalmente partimos para a linha Opoka, que é a top da vinícola.

A Sauvignon Blanc passa por maceração em barrica aberta, por 36 horas, com controle de temperatura. A maturação leva 22 meses em tonéis de carvalho, além do afinamento em garrafa por 6 meses. Sua cor é amarelo com reflexos dourados, com excelente mineralidade e um divino bouquet de pêssego, pêra e cítricos. Tem delicioso persistente retrogosto.

A Chardonnay é produzida com uvas das vinhas antigas (30 a 40 anos). A vinificação é feita por 48 horas em tanques abertos com controle de temperatura. A maturação é de 24 meses em barrica e 6 meses em garrafa. Sua cor é dourada, com reflexos minerais. Apresenta um bom volume na boca, com toques salgados e um pouco de vanilla, com longa permanência. Os aromas são de mel, com especiarias, brioche e manteiga. Maravilhoso.

A Merlot passa 28 dias em maceração em tanques de inox, em contato com a casca. Sua maturação é de 42 meses em barrica, seguida de afinamento em garrafa por 6 meses. Sua cor é rubi e os aromas são de ameixa madura e geleia de cerejas negras, couro e tabaco. Tem uma suavidade na boca, com grande estrutura, equilíbrio e grande persistência. Muito especial.

Concluímos a degustação com o vinho doce Leonardo, produzido da uva Ribola, passificado até abril do ano seguinte à colheita (7 meses), sem entrar em contato com a Botrytis  cinerea. Neste processo cresce a doçura e acidez da uva, dando ao vinho um delicioso aroma e complexidade. As parreiras destas uvas têm entre 48 e 56 anos. As uvas são prensadas manualmente. 5.000 kg de uvas resultam em apenas 400 l de mosto. A fermentação é feita em barrica de 130 l, passando depois por uma maturação de 30 meses em barricas de 130 l. Sua cor dourada é muito complexa e os aromas maravilhosos. No nariz dá para sentir aromas de geleia (damasco, figo), com toques de limão e casca de laranja além de tabaco. Na boca ele é sedoso, repetindo as características sentidas no nariz. Ele é um vinho equilibrado, com intensa persistência, no nariz e na boca. Um gran finale!

A recepção da Valerija foi maravilhosa, sempre nos servindo frutas e outras iguarias para acompanhar os vinhos.

Foi uma bela experiência!

Fiquei alegre em ver um povo tão sofrido pelas guerras, que no entanto, recebe o estrangeiro com toda gentileza e cordialidade.

Esta foi uma bela entrada que fiz na Eslovenia e que me deu  esperança de me inteirar com este povo maravilhoso, bem como, desejar conhecer mais os seus vinhos.


Agradeço à Decanter e ao Gelson, que me atende na loja do Itaim, por me propiciar esta experiência única e esta visita a Simcic!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Do Brasil para Luxemburgo, Tenuta Foppa & Ambrosi

Tenuta Foppa & Ambrosi estreia neste mercado com exportação de 600 garrafas   Os ‘guris’ que começaram a elaborar vinho no porão de casa...