No Encontro Mistral 2019 fiz uma entrevista com Diana Kelley, regional manager da vinícola Tokaj Oremus.
Ela então me contou que na região Tokaj, Tokaj-Hegyalja está localizada em uma cadeia de montanhas no nordeste da Hungria. A cidade de Tolcsva e as vinícolas de Oremus estão no centro geográfico daquela região.
A história deste vinhedo remonta ao século 13, quando a Ordem Católica Romana dos Paulinos se estabeleceu nesta cidade da Hungria. O próprio nome "Oremus" sugere que os Paulinos desenvolveram a vinha nesse período. Durante o início de 1500, esta terra foi confiscada e tornou-se propriedade da nobreza do país.
Segundo a lenda, o primeiro vinho feito com uvas Aszú botritizadas veio desta vinha, em torno de 1620. Na época, Zsuzsanna Lorantffy, a esposa do príncipe George Rákóczi I, possuía um grande vinhedo na Oremus, sob a direção do pregador calvinista László Szepsi Maté, que é hoje considerado o inventor dos vinhos Aszú. Relatos demonstram que, por causa da guerra com os turcos otomanos, as uvas tiveram de permanecer na videira mais tempo do que o habitual e, portanto, foram atingidas pela “pela podridão nobre” (fungo botritys cinérea que ataca a casca da uva desidratando-a).
Szepsi então não se desfez da grande safra e usou as uvas botritizadas criando, talvez, sem querer, um novo tipo de vinho, que conhecemos hoje como Aszú. No entanto, Szepsi só serviu sua criação à princesa Zsuzsanna depois de 10 anos, na comemoração da Páscoa de 1631.
Os vinhedos de Tokaj-Hegyalja foram os primeiros a ser formalmente classificados (mais de um século e meio antes da classificação de Bordeaux). Já no século XVII, a família Rákóczi introduziu a 1ª, 2ª e 3ª classes (ou cru) de classificação da qualidade. Há também registros de que tal método não sobreviveu e o segundo esforço oficial sobre a classificação foi concluída em 1772.
Em 1993, apenas 3 anos após a queda do comunismo, a família Alvarez, donos do Vega Sicilia, voltou sua atenção para a Hungria e fundou a Tokaj-Oremus Viñedos y Bodegas. As atividades da propriedade baseiam-se principalmente em Tolcsva, onde uma moderna adega de vinificação foi construída em 1999 e está ligada ao labirinto de adegas que se encontram desde o século XIII.
Um dos exemplares que refletem este trabalho é o Tokaji Aszú 6 Puttonyos de Oremus, que é incrivelmente doce e denso, um verdadeiro néctar, de grande complexidade e presença de boca. É um vinho simplesmente sublime, de muita elegância e refinamento, sem nem uma sombra do caráter oxidativo de alguns Tokaj mais rústicos. Sem dúvida ele está entre os melhores vinhos de sobremesa do mundo.
Em 2002, o Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO reconheceu as condições excepcionais de vinificação da região de Tokaj, sua capacidade secular de promover a cultura e seu valor, e recebeu o status de Patrimônio Mundial.
A uva utilizada para fazer os vinhos da Oremus é a Fumint e os vinhos produzidos pela Oremus são:
O Mandolás, que é feito com a uva Fumint, cuja fermentação ocorre em barris por 8 a 12 dias. O vinho envelhece em pequenos barris de 136 l, que é típico da região. É um vinho seco, mineral e muito equilibrado.
O Late Harvest usa mistura diferentes variedades de uvas, inclusive a Fumint, que dá um equilíbrio com a douçura, enquanto a Kövérszőlő and Zéta, traz uma fruta fresca. Metade das uvas tem a podridão nobre. A colheita tardia precisa de uma fermentação lenta até chegar a cerca de 12 % de álcool. O mosto fica em barricas por um ano e mais um ano em garrafa.
A produção do Aszú (vinho de lágrimas) 3, 5 ou 6 Puttonyos (cestas), que é produzido apenas em grandes safras, quando ocorre a Botrytis Cinérea, que cria, na casca da uva, a podridão nobre. Ao mosto, num barril de 136 l é acrescida de 3, 5 ou 6 cestas de 23 kg de uva. A uva é macerada com o mosto e fica no barril por um ou dois dias e depois é prensada. Passa então por um processo de fermentação lenta, de 1 ou 2 meses. É colocado então em um barril até que a fermentação pare. É também adicionado um pouco da Eszencia que é coletada gota a gota dos barris de Asxú. O vinho é envelhecido em barricas, em adegas de subsolo, por 2 a 3 anos. O vinho fica ainda em garrafa por 1 ano. Este é um vinho excepcional rico de aromas e sabores de frutas maduras.
O Eszencia só é produzido em anos excepcionais, quando a podridão nobre na uva é abundante. O vinho é resultante do gotejamento da uva. Ele é um vinho incrível, com apenas 3% de álcool, com muito açúcar concentrado, chegando à 500 gr de açúcar por litro. As uvas são colhidas uma a uma, conseguindo o colhedor tirar por volta de 5 a 10 Kg por dia. As uvas ficam na adega 15 a 20 dias onde são prensadas pelo próprio peso da uva. O mosto é colocado em vasos de vidro de 50 litros onde sofre um lento processo de fermentação. No fim de 2 anos ele é decantado em barris de 68 l (Átalag), onde continua o envelhecimento. Ele então continua o envelhecimento em garrafa, que pode levar décadas!
Eu só provei até hoje Tokaj de até 6 Tkaj Puttonyos. Conforme sobe a escala, o vinho fica com aromas e sabores mais concentrados, o que é inebriante!
Após esta complexa entrevista, fui para a feira provar o delicioso Mandolás e o Late Harvest.
Agradeço à Mistral pelo convite e à Diana pelo delicioso papo esclarecedor!
Aproveitem as experiências que venho vivendo, enquanto procuro conhecer melhor o mundo dos vinhos. Também vou falar da gastronomia e de viagens pelo mundo, incluindo as principais regiões produtoras de vinho. Saúde! E boa leitura!
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Bravos, belle présentation de cette fantastique région et de ses vins
ResponderExcluirnon moins extraordinaires. Au plaisir de vous lire à nouveau. DG