segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Oremus, vinícola da Hungria que produz os fabulosos vinhos Tokaj

No Encontro Mistral 2019 fiz uma entrevista com Diana Kelley, regional manager da vinícola Tokaj Oremus.

Ela então me contou que na região Tokaj, Tokaj-Hegyalja está localizada em uma cadeia de montanhas no nordeste da Hungria. A cidade de Tolcsva e as vinícolas de Oremus estão no centro geográfico daquela região.

A história deste vinhedo remonta ao século 13, quando a Ordem Católica Romana dos Paulinos se estabeleceu nesta cidade da Hungria. O próprio nome "Oremus" sugere que os Paulinos desenvolveram a vinha nesse período. Durante o início de 1500, esta terra foi confiscada e tornou-se propriedade da nobreza do país.

Segundo a lenda, o primeiro vinho feito com uvas Aszú botritizadas veio desta vinha, em torno de 1620. Na época, Zsuzsanna Lorantffy, a esposa do príncipe George Rákóczi I, possuía um grande vinhedo na Oremus, sob a direção do pregador calvinista László Szepsi Maté, que é hoje considerado o inventor dos vinhos Aszú. Relatos demonstram que, por causa da guerra com os turcos otomanos, as uvas tiveram de permanecer na videira mais tempo do que o habitual e, portanto, foram atingidas pela “pela podridão nobre” (fungo botritys cinérea que ataca a casca da uva desidratando-a).

Szepsi então não se desfez da grande safra e usou as uvas botritizadas criando, talvez, sem querer, um novo tipo de vinho, que conhecemos hoje como Aszú. No entanto, Szepsi só serviu sua criação à princesa Zsuzsanna depois de 10 anos, na comemoração da Páscoa de 1631.

Os vinhedos de Tokaj-Hegyalja foram os primeiros a ser formalmente classificados (mais de um século e meio antes da classificação de Bordeaux). Já no século XVII, a família Rákóczi introduziu a 1ª, 2ª e 3ª classes (ou cru) de classificação da qualidade. Há também registros de que tal método não sobreviveu e o segundo esforço oficial sobre a classificação foi concluída em 1772.

Em 1993, apenas 3 anos após a queda do comunismo, a família Alvarez, donos do Vega Sicilia, voltou sua atenção para a Hungria e fundou a Tokaj-Oremus Viñedos y Bodegas. As atividades da propriedade baseiam-se principalmente em Tolcsva, onde uma moderna adega de vinificação foi construída em 1999 e está ligada ao labirinto de adegas que se encontram desde o século XIII.

Um dos exemplares que refletem este trabalho é o Tokaji Aszú 6 Puttonyos de Oremus, que é incrivelmente doce e denso, um verdadeiro néctar, de grande complexidade e presença de boca. É um vinho simplesmente sublime, de muita elegância e refinamento, sem nem uma sombra do caráter oxidativo de alguns Tokaj mais rústicos. Sem dúvida ele está entre os melhores vinhos de sobremesa do mundo.

Em 2002, o Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO reconheceu as condições excepcionais de vinificação da região de Tokaj, sua capacidade secular de promover a cultura e seu valor, e recebeu o status de Patrimônio Mundial.

A uva utilizada para fazer os vinhos da Oremus é a Fumint e os vinhos produzidos pela Oremus são:

O Mandolás, que é feito com a uva Fumint, cuja fermentação ocorre em barris  por 8 a 12 dias.  O vinho envelhece em pequenos barris de 136 l, que é típico da região. É um vinho seco, mineral e muito equilibrado.

O Late Harvest usa mistura diferentes variedades de uvas, inclusive a Fumint, que dá um equilíbrio com a douçura, enquanto a Kövérszőlő and Zéta, traz uma fruta fresca. Metade das uvas tem  a podridão nobre. A colheita tardia precisa de uma fermentação lenta até chegar a cerca de 12 % de álcool. O mosto fica em barricas por um ano e mais um ano em garrafa.

A produção do Aszú (vinho de lágrimas) 3, 5 ou 6 Puttonyos (cestas), que é produzido apenas em grandes safras, quando ocorre a Botrytis Cinérea, que cria, na casca da uva, a podridão nobre. Ao mosto, num barril de 136 l é acrescida de 3, 5 ou 6 cestas de 23 kg de uva. A uva é macerada com o mosto e fica no barril por um ou dois dias e depois é prensada. Passa então por um processo de fermentação lenta, de 1 ou 2 meses. É colocado então em um barril até que a fermentação pare. É também adicionado um pouco da Eszencia que é coletada gota a gota dos barris de Asxú. O vinho é envelhecido em barricas, em adegas de subsolo, por 2 a 3 anos. O vinho fica ainda em garrafa por 1 ano. Este é um vinho excepcional rico de aromas e sabores de frutas maduras.

O Eszencia só é produzido em anos excepcionais, quando a podridão nobre na uva é abundante. O vinho é resultante do gotejamento da uva. Ele é um vinho incrível, com apenas 3% de álcool, com muito açúcar concentrado, chegando à 500 gr de açúcar por litro. As uvas são colhidas uma a uma, conseguindo o colhedor tirar por volta de 5 a 10 Kg por dia. As uvas ficam na adega 15 a 20 dias onde são prensadas pelo próprio peso da uva. O mosto é colocado em vasos de vidro de 50 litros onde sofre um lento processo de fermentação. No fim de 2 anos ele é decantado em barris de 68 l (Átalag), onde continua o envelhecimento. Ele então continua o envelhecimento em garrafa, que pode levar décadas!

Eu só provei até hoje Tokaj de até 6 Tkaj Puttonyos. Conforme sobe a escala, o vinho fica com aromas e sabores mais concentrados, o que é inebriante!

Após esta complexa entrevista, fui para a feira provar o delicioso Mandolás e o Late Harvest.

Agradeço à Mistral pelo convite e à Diana pelo delicioso papo esclarecedor!

Um comentário:

  1. Bravos, belle présentation de cette fantastique région et de ses vins
    non moins extraordinaires. Au plaisir de vous lire à nouveau. DG

    ResponderExcluir

Do Brasil para Luxemburgo, Tenuta Foppa & Ambrosi

Tenuta Foppa & Ambrosi estreia neste mercado com exportação de 600 garrafas   Os ‘guris’ que começaram a elaborar vinho no porão de casa...